29 outubro 2012


SONINHA FRANCINE:
POR QUE SAÍ DO PT.

Cap. 1


Cap. 2


Cap. 3


Cap. 4


Cap. 5


Cap. 6


Cap. 7


Cap. 8


Cap. 9


Cap. 10


Cap. 11


Cap. 12


Cap. 13


Cap. 14 (final)

13 outubro 2012


AQUI E ALHURES: A MESMA FARSA

No dia 13 de dezembro de 2006, publiquei em meu blog um artigo intitulado “GIPSÓFILAS & JABACULÊS”.
Ainda sob os eflúvios do mensalão, mas descrente de que aquela tenebrosa transação pudesse ter qualquer consequência, principalmente depois de a oposição fazer ouvidos moucos à estarrecedora declaração do publicitário Duda Mendonça: "... num determinado momento, o senhor Marcos Valério chamou a Zilmar e disse assim: 'Traz uma conta lá fora, que fica mais fácil de pagar vocês'. Para nós era uma coisa esquisita, mas era assim: ou traz a conta lá fora ou não vai receber a grana", nem mesmo citei aquele escândalo, para mim já enterrado sob toneladas de incompetência oposicionista e esquecido sob carradas de cumplicidade jornalística e acadêmica.
Os “malfeitos”, eufemismo petralha para roubo, crime, assalto aos cofres públicos, continuavam sob novas formas e com metodologia mais sofisticada. Eles agora usavam todas as estruturas do Estado democrático e de Direito para solapar as mesmas instituições que lhes garantiam essa plena e descarada desenvoltura.
O artigo é especialmente interessante para aqueles milhares de ingênuos que acreditaram no PT em seu nascedouro e, mais ainda, para os milhões que ainda acreditam que, na origem, ele era puro e imaculado, tendo-se desvirtuado quando foi “obrigado” a compor-se com a pútrida e fétida direita.
Leiam e descubram os véus que desde sempre obnubilaram seus olhos e suas consciências.

Todos os anos, em meados de abril, milhares de pessoas invadem os bosques franceses em busca daquela delicada flor branquinha, com que se costuma rechear ramalhetes, chamada gipsófila. É tradição naquele país presentear os amigos com ramos dessa flor no feriado de 1º de maio, Dia do Trabalho.
Inteligentemente, o Partido Comunista Francês se aproveitava desse costume para mobilizar seus militantes em torno da colheita, cuja renda revertia integralmente para os seus cofres. Segundo informações do próprio PCF, em 2004 a colheita teria produzido um milhão de pequenos vasos, que teriam gerado uma receita de Є$ 1,5 milhão de euros (R$ 5,4 milhões de reais).
Tudo muito bonito e poético, não fosse a revista francesa "Capital" resolver ouvir um especialista no cultivo de gipsófila que garantiu ser impossível colher tantas flores em tempo tão exíguo. Diante dessa informação, e depois de minuciosa investigação, reportagem de capa da edição de fevereiro de 2004 concluía que a gipsófila era, simplesmente, a mais poética das formas de se lavar dinheiro sujo.
Tipicamente francês, eu diria. Afinal, foi um conterrâneo, o moralista La Rochefoucauld, quem cunhou a famosa expressão "a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude".
Por aqui, também já houve um tempo em que o assovio da poesia e o véu da hipocrisia ocultavam os vícios, simulando a virtude. Era o tempo dos broches, das camisetas, dos bonés que, como a inocente gipsófila, funcionavam como lavanderia dos recursos amealhados em prefeituras companheiras.
Hoje, porém, os escrúpulos foram mandados às favas, optando-se pelo cinismo debochado, pelo escracho escancarado, pela esculhambação desabrida. Não há mais preocupação sequer com as aparências, apenas com os resultados.
A eleição presidencial deste ano teve uma escandalosa quantidade de vícios que macularam o processo eleitoral, distribuindo benesses claramente programadas e agendadas com esse objetivo.
Ou terá sido coincidência que, depois de três anos de reajustes pífios, a elevação do salário mínimo este ano tenha sido de 16,7% para uma inflação de cerca de 5%?
Ou terá sido coincidência a antecipação para setembro do pagamento de metade do 13º salário dos aposentados e pensionistas do INSS?
Ou terá sido coincidência a concessão de reajustes a mais de 110 mil servidores públicos, a um custo de R$ 5,2 bilhões, inclusive atropelando critérios como o da equivalência salarial com o setor privado?
Ou terá sido coincidência a ampliação do Bolsa-Família, cujo número de beneficiárias passou de 8,3 milhões para 11,1 milhões só neste ano?
Pelo andar da carruagem, parece que todos esses malfeitos, além das doações ilegais, serão perdoados pelos nossos tribunais, impondo-nos mais quatro longos anos de desgoverno. Mas que fique bem claro que o que se praticou nessa campanha foi o velho “é dando que se recebe”, o carcomido jabaculê, vulgo jabá, fantasiados de "tudo pelo social".
Voltando aos franceses, era neles que pensava o guru petista Carlito Maia quando dizia "quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita". Felizmente, seis meses antes do início da era Lula ele preferiu juntar-se aos seus velhos amigos Henfil e Betinho. Privou-se do desconforto de ver confirmadas as suas imprecações contra a esquerda francesa justamente pelas mãos dos seus fiéis companheiros, a quem doara a criação do slogan “oPTei”.
Se vivo fosse, certamente desoPTaria, por coerência e aversão à hipocrisia.

Como se pode ver, alhures, com as inocentes gipsófilas, como aqui, com os broches, as camisetas e os bonés, os métodos foram sempre os mesmos. Que o diga Celso Daniel.

HADLEYBURG REDIVIVA

Em 17 de julho de 2006, publiquei em meu blog um texto com o título “HADLEYBURG E O PT, TUDO A VER”. Vamos a ele.

O escritor norte-americano Mark Twain, autor das conhecidíssimas aventuras de Huckleberry Finn e Tom Sawyer, tem uma faceta pouco conhecida. Ele foi um dos mais ardorosos e contundentes críticos do imperialismo do seu próprio país, tendo publicado dezenas de panfletos que atacavam as ações ianques nas Filipinas, Panamá, México, Cuba, Nicarágua, República Dominicana. “Eu me recuso a aceitar que a águia crave suas garras em outras terras”, sentenciava. Acusado de traição, retrucava: “Eu gostaria de ensinar o patriotismo nas escolas, e o ensinaria assim: jogaria fora a velha máxima ´Minha Pátria, certa ou errada, minha Pátria´, e em seu lugar diria ´Minha Pátria, quando certa´”.
Twain foi, também, um analista feroz do american way of life. Escrita em 1899, “O Homem que Corrompeu Hadleyburg” é considerada uma de suas mais brilhantes histórias. Nela ele aborda o processo de derrocada moral de uma pequena cidade, até então considerada um reduto de excelência de conduta. “Hadleyburg era a cidade mais honesta e honrada de toda a região. Já mantinha esta reputação imaculada havia três gerações. (...) As cidades vizinhas tinham inveja dessa honrada supremacia (...) mas, mesmo assim, eram obrigadas a reconhecer que era uma cidade realmente incorruptível”. Assim começa a história da aparentemente pura e imaculada Hadleyburg, que, graças à engenhosidade da trama urdida por Twain, não resiste a parcas 50 páginas antes de revelar-se a mais mentirosa, corrupta e desprezível das cidades. Hadleyburg, no fundo, era uma farsa grotesca.
Quem destampou a caixa de Pandora daquele pequeno burgo foi um estrangeiro que, de passagem por lá, foi ofendido e humilhado por um dos seus ilustres membros. Rancoroso, durante um ano ele arquiteta sua vingança: corromper Hadleyburg!!! Depois de espalhar suas ardilosas armadilhas, as tentações pelo vil metal ganham corpo celeremente no povoado. Enquanto são facilmente derrubadas as máscaras, armaduras e carapuças dos 19 principais cidadãos, das 19 principais famílias, eles continuam recitando, maquinalmente, o mantra que ainda impregna suas mentes: “Não nos deixeis cair em tentação”. Mas, ao fim e ao cabo, vence a natureza humana, impondo-se, implacavelmente, sobre aquela frágil e débil pureza nunca antes testada. Todos se revelam torpes, vis, malignos, ignóbeis, desprezíveis, indignos, imorais, desonestos, aéticos.
Ao reler essa deliciosa história, não pude resistir à imediata correlação com o PT e sua história – vestais imaculadas transfiguradas em lambuzados mensaleiros, santarrões virginais metamorfoseados em quebradores de sigilo, torquemadas e savonarolas convertidos à liturgia profana de Jeany Mary Corner, pregadores flagrados pecadores, presos políticos reduzidos a políticos presos (quem dera!).
Quando Twain fala dos 19 íntegros e impolutos, a reação quase automática é começar a recapitular a débâcle petista para checar se há também semelhança numérica entre as histórias: José Dirceu, Waldomiro Diniz, Palocci, Juscelino Dourado, Rogério Buratti, Gushiken, Genoíno, Delúbio, Silvio Pereira, Marcelo Sereno, Henrique Pizzolatto, Jorge Mattoso, Okamoto, João Paulo Cunha, José Mentor, Josias Gomes, Paulo Rocha, João Magno - dezenove! BINGO! -, mas poderia ser bem mais, se incluíssemos o homem-cueca, os bispos aliados, os publicitários, os banqueiros et caterva...
Sucumbindo ao humor corrosivo de Twain, diria que essa súcia parece pautar-se no lema do desabusado Tim Maia: "Não fumo, não bebo, não cheiro; só minto um pouco".
A farsa do PT pode ser bem entendida a partir do que disse o poeta norte-americano Stephen Vincent Benét: "Se a idéia é boa ela sobreviverá à derrota. Se ela for mesmo boa, pode sobreviver até à vitória". Como se sabe, o PT sobreviveu a várias derrotas, mas foi incapaz de resistir à vitória.
Diante desse cenário devastador, desintegrador de valores e desarticulador das instituições, talvez só reste apelar para a farmacopeia moral disponível nas estantes dos tempos: Demócrates: “Tudo está perdido quando os maus servem de exemplo e os bons de deboche”. Jean-Paul de Gondi, cardeal de Retz: "Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito”. Nathaniel Lee: "Quando homens pequenos lançam grandes sombras, é porque a noite está chegando". Disraeli: "O momento exige que os homens de bem tenham a audácia dos canalhas!!!". Mas, talvez, a melhor solução seja aquela sugerida (em tom de blague) pelo publicitário norte-americano Bill Bernbach: “Tenho uma grande ideia: vamos dizer a verdade!”.

Decorridos seis longos anos, a tênue esperança de ver certos ex-presos políticos reduzidos à republicana condição de políticos presos parece prestes a se concretizar, graças à coragem, à audácia, à honradez, à altivez, à sobranceria, à dignidade, ao brio da maioria dos 11 do Supremo.