A NEUROSE
Selecionei-o por acreditar que explica muito do que se passa na cabeça daqueles que ainda, e apesar de tudo, ainda continuam a apoiar o PT e suas trapaças.
A melhor definição de neurose que conheço é do meu falecido amigo
Juan Alfredo César Müller, um gênio da psicologia clínica. Neurose, dizia ele, “é
uma mentira esquecida na qual você ainda acredita”. Se mentir para si é
esquecer a verdade, neurose é esquecer o esquecimento, apagar as pistas do
embuste. Na neurose, a mentira transforma-se num sistema, num programa que se
automultiplica, ocultando a mentira inicial sob montanhas de entulhos só para
depois alguém ter de pagar a um psicanalista para removê-los. Mas ninguém
ficaria neurótico se a opção neurótica não lhe parecesse vantajosa, ao menos no
instante decisivo em que uma verdade intolerável se abre diante dele como um
abismo. Mentir alivia porque economiza à psique o esforço de suportar um
desequilíbrio temporário.
Frithjof Schuon |
Uma vez afrouxadas porém as demandas da autoconsciência, a
imaginação torna-se a serva prestativa do interesse orgânico imediato,
produzindo tantas ficções quantas forem necessárias para conservar o indivíduo
num estado de profunda sonolência moral, no qual ele não tenha de responder
pelos seus atos. O entorpecimento da consciência tem graus e etapas, que vão
desde as “racionalizações” corriqueiras com que na vida diária nos furtamos ao
apelo de pequenos deveres, até a completa inversão. O homem moralmente embotado
já não consegue “sentir” a bondade ou maldade intrínseca de seus atos. Embora conheça
perfeitamente as normas sociais que aprovam ou desaprovam certos comportamentos,
ele não as vê senão como convenções mecânicas, e pode até continuar a
obedecê-las exteriormente por mero hábito, mas sem pensar sequer em lhes aderir
de coração; e continuará assim até que a conjunção da necessidade com a
oportunidade o transforme de vez no criminoso que sempre foi.
Sua incapacidade para discernir o bem e o mal exceto como convenções
vazias será usada como “prova” de que toda lei moral é um convenção vazia, e a
deformidade da sua psique será erigida em padrão de medida moral para toda a
humanidade. Mas um homem não vive muito tempo em estado de abstinência moral. Após
ter solapado as bases de todo critério moral objetivo, ele continuará a ter ódios
e afeições, repugnâncias e desejos, que, na esfera intelectual, farão brotar
outros tantos correspondentes juízos morais elaborados racionalmente. Não podendo
suportar indefinidamente a insegurança de admitir que esses juízos são meras preferências
subjetivas, não melhores ou piores do que quaisquer outras, ele cairá na tentação
de argumentar a favor deles, de lhes dar uma expressão e fundamento
intelectual; e, ao fazê-lo, criará um novo critério de moralidade, que não consistirá
em outra coisa senão na ampliação universalizante dos gostos perversos de um
indivíduo. A linguagem abstrata da filosofia moral terá se tornado uma arma a serviço
de fins egoístas, de um ego inflado que remoldará o mundo à sua imagem e semelhança.