OS MERDOSOS *
Para tentar entender um pouco do
que anda ocorrendo com a noção de ética “nestepaiz” (como diria o noço guia),
fui buscar luzes num livro editado em 1999 - “A Esquerda no Umbral do Século
XXI – Tornando Possível o Impossível” - da cientista política chilena Marta
Harnecker, atualmente debruçada sobre a revolução bolivariana de Hugo Chávez.
Bem no finalzinho da sua obra,
tentando reduzir a sensação de inaplicabilidade de todo o palavrório
precedente, ela saca da sua cartucheira moral a seguinte pérola: “Por último,
não existe apenas o terreno do legal e de seu oposto, o ilegal; há todo um
campo que poderíamos chamar de a-legal, quer dizer, aquilo que não entra nem no
terreno do legal nem do ilegal” (...) “A esquerda latino-americana pode ir
acumulando forças e ir gerando a transformação cultural do povo de modo que
este assuma cada vez mais seu destino em suas mãos, criando dessa maneira uma
das bases fundamentais da nova sociedade que pretendemos construir: uma
sociedade caracterizada pelo povo assumindo o papel principal em todos os
níveis”.
Com a ajuda preciosa desse
texto, fica mais fácil entendermos a lenta, gradual e constante putrefação da
ética em nosso país. Burgueses ignorantes, desconhecíamos a existência dessa
nova categoria inventada pela esquerda latino-americana: o vasto campo do
a-legal. Não é uma maravilha? Poder roubar, prevaricar, surrupiar, desviar,
mensalar, vampirar, sanguessugar e, ainda assim, flutuar num vácuo distante
tanto do legal quanto do ilegal?
Muito legal!!!
E quem é que, antes de todos
nós, percebeu isso? Claro, a nossa vanguarda intelectual.
Wagner Tiso, músico: "Não
estou preocupado com a ética do PT. Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer
para governar o país. Estou me lixando para a ética”.
Paulo Betti, ator: “Não se faz
política sem por a mão na merda”.
Luiz Carlos Barreto, cineasta:
"A política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência. Se o fim é
nobre, os fins justificam os meios".
José de Abreu, ator: "Eu
acho difícil fazer política sem colocar a mão na merda, mas acho que tem que
tentar ter mãos beatas". Tudo isso dito na casa do ministro Gilberto Gil,
depois de declararem apoio ao presidente Lula.
Passados alguns dias, depois de
uma enxurrada de críticas à pouca vergonha desse escatológico jantar, os aparatchiks
da academia vieram em socorro de seus companheiros. Luis Fernando Veríssimo
chegou muito perto da lógica torta da Marta chilena ao dizer que “os eleitores
declarados do Lula estão sabendo distinguir o moralismo de ocasião do moralismo
legítimo”.
Mas a mais desabrida e
desavergonhada foi a feminista Rose Marie Muraro. Para ela, Lula é, sim, um
ladrão, mas merece nosso perdão porque, segundo ela, estaria dividindo o butim
com os pobres, (e, por conseqüência, seriam todos seus cúmplices na divisão da
rapina, digo eu). Diz, também, que o coitadinho "se viu obrigado a jogar o
jogo da classe dominante para continuar no poder", sem se dar conta de que
a recíproca é verdadeira, ou seja, será que os outros ladrões só o eram por
terem sido obrigados a isso também? Quércia, Maluf, Collor e Newtão (todos
aliados!) agradecem penhorados a defesa tardia.
Muraro diz ainda que a Zelite
"fabricaram a noção de moralidade para que os dominados continuassem
pobres, sem competir com eles (ricos)", sem se dar conta de que elas, as
antigas vestais petistas, hoje assumidíssimas Messalinas, foram sempre os
maiores arautos dessa tal moralidade inventada pela Zelite.
É de uma indigência de dar dó o
pensamento dessa “vanguarda” intelectual, hoje disputando o papel de quem mete
mais a mão na merda...
Intelectual por intelectual,
fecho com o Jabor: “Esses bravos criadores de arte estão trazendo à luz do dia,
num ato falho espetacular, a verdadeira ideologia que orienta o PT. Prestaram
um serviço à verdade”.
*MERDOSO = que não tem capacidade; imbecil, parvo.
2 comentários:
Junk.....gostei voce esta cada vez mais afiado....depois de velho virou de direita.....!? estou gostando....
Quão atual está este post e esta prática atual do Lula e do partido dos trabalhadores!
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