08 abril 2014

ORGULHO DE SER REACIONÁRIO

Os “reacionários” eram cantados como alvo de ódio por um dos dois maiores totalitarismos da história mundial. No hino nazista, a Canção de Horst-Wessel ("Kameraden, die Rotfront und Reaktion erschossen”), “reacionário” era o epíteto dado aos inimigos dos revolucionários que queriam o poder total (a marca da era moderna) para “corrigir” a sociedade. Reacionário foi quem se opôs a Lenin, a Mao, a Hitler, a Mussolini, a Khomeini, a Fidel, a Milošević, a Pol Pot, a Saddam, a Kadafi, a Mugabe, a Kim Il-sung – foram os refratários ao reformismo social pela tirania estatal.


Reacionários, para quem estuda, lê e pesquisa antes de vomitar achismos e opiniões inventadas de estro próprio por aí, são aqueles que, ao ver um problema social, desconfiam da solução “revolucionária” de plantão (aumentar o poder do Estado para que ele corrija/proíba/financie) e, imaginando como as coisas reagem, se posicionam contra a concentração de poder nas mãos de uns poucos bem-iluminados que, supostamente, podem “corrigir” o problema. Reacionários são os caras que desconfiam de políticos e suas "soluções".

Cambodja
Por isso, os reacionários eram considerados os inimigos das “revoluções” – esta palavra que soa tão agradável a ouvidos desacostumados com a História, que não percebem que toda “Revolução” contra tudo o que está aí resultou no poder absoluto nas mãos de um tirano que simbolizava o pensamento único: a Revolução Francesa decai em Napoleão Bonaparte depois do Terror, a Revolução Russa faz o poder do tsar parecer minúsculo perto de Lenin, Stalin, Kruschev, Andropov e afins, a Revolução Chinesa põe no poder Mao Zedong, que mata sozinho, por métodos que vão do fuzilamento à fome, mais de 70 milhões de pessoas, a Revolução Iraniana, idolatrada por Michel Foucault (que era gay), transforma o ocidentalizado Irã no totalitarismo fechadíssimo de Rūḥollāh Khomeini que enforca gays em praça pública. Todos estes tiranos odiavam os “reacionários” que avisaram: “não faça revolução, vai dar merda…”.

Não há como não notar a contradição brutal em chamar alguém de reacionário e fascista ao mesmo tempo, quando um era inimigo mortal do outro a ponto de ser cantado como alvo de ódio até no hino nacional.

G. K. Chesterton
O reacionário descobre como as coisas reagem porque pensa como um dos homens mais inteligentes da humanidade, G. K. Chesterton: em seu ensaio The Superstition of School, ele explica que não é esperado que os homens “velhos” sejam reacionários, mas que, com a experiência, saibam que as coisas reagem e como reagem - ao contrário do furor revolucionário, que crê religiosamente que o mundo será moldado passivamente com as suas boas intenções. Se um homem atira num coelho, num velho ou num rei, deve esperar reações dessa ação. É a experiência que faz com que o homem tenha expectativa pelo tranco do revólver antes mesmo de puxar o gatilho.

David Hume
É por isso que David Hume, o cético e maior expoente do empirismo, lembra que as doutrinas e tradições são conhecimento, e não precisamos atirar nós mesmos em um coelho, um velho ou um rei para descobrir as consequências. É por isso que conservadores olham para o passado: para não precisar seguir caminhos que os antigos já sabiam que dariam errado no futuro. É por isso que os conservadores conservam tradições e leem livros antigos, de Platão a Montaigne, de Shakespeare a Solzhenitsyn – o revolucionário, por outro lado, acredita que suas boas intenções bastam para “consertar” o mundo, sem esperar nenhuma reação da dura realidade.

G. K. Chesterton nos ensina que o homem que acumula a sabedoria das reações não perde ideais, como os jovens costumam crer que os velhos perderam seus sonhos. Pelo contrário: o socialismo ideal, o capitalismo ideal ou qualquer Utopia, mantida pura no mundo das idéias, hagiograficamente virginal ao contato com a realidade, continua sendo sempre ideal. O problema é o real.

Prometeu 
Ser reacionário é saber como as coisas reagem. É ter um saber que prevê reações antes mesmo de elas ocorrerem. É o homem que vê consequências imprevistas onde o afobado vê motivo para exaltação e ânimo em marcha acelerada. É o homem que, como Prometeu no mito, o primeiro reacionário, vê o mal antes mesmo de ele ocorrer. É, enfim, o homem que não nasceu ontem, que não é seduzido por discursos maviosos de quem quer melhorar o mundo sob mandos da concentração de poder e da proibição do que não gostam e do subsídio ao que gostam. Como se ofender em ser reacionário?

Basta ler as palavras de um nobilíssimo reacionário, Erik von Kuehnelt-Leddihn, homem de conhecimento enciclopédico capaz de ler em mais de 20 línguas e, como bom reacionário austríaco, um fugitivo do nazismo, em seu O Credo do Reacionário.

Como se vê, ser reacionário exige experiência, conhecimento de causalidade, a “prudência” na política que nos pedem de Aristóteles a Russell Kirk. Exige a depuração de leituras das obras dos maiores intelectuais da direita “reaça” que povoaram o século: Edmund Burke, Russell Kirk, Thomas Sowell, Eric Voegelin, Bernard Lonergan, Roger Scruton, Ludwig von Mises, Erik von Kuehnelt-Leddihn, Ortega y Gasset, Alain Peyrefitte, Anne Applebaum, Roger Kimball, Alain Besançon, Lionel Trilling, Paul Johnson, David Pryce-Jones, Vicente Ferreira da Silva, Olavo de Carvalho, Otto Maria Carpeaux, Theodor Dalrymple, T. S. Eliot, Rosenstock-Huessy, Michael Oakeshott, Irving Babbitt, Ellis Sandoz, Vladimir Bukovsky, Vladimir Tismăneanu, Matei Visniec.


A esquerda chama todo mundo de quem discorda de “racista”, de “homofóbico”, de “fascista” justamente porque sabe que os xingados odeiam racismo, homofobia, fascismo – e se calarão quando tiverem sua opinião associada a estas coisas das quais têm nojo mortal. Se fossem de fato racistas, homofóbicos ou fascistas, as pessoas simplesmente diriam “Sim” e continuariam na mesma. Mas não é o que a esquerda planeja.

O mesmo não ocorre quando eles pensam estar nos ofendendo ao chamar-nos de “reacionário”, devido à sua própria ignorância em relação ao termo. Neste caso, devemos tomar o epíteto como o elogio que é. Afinal, o que há de ofensivo em saber como as coisas reagem? Em ser inimigo mortal de nazistas, comunistas e totalitarismos islâmicos homofóbicos e misóginos? Em ser contrário à concentração de poder, ao reformismo rebanhista, à planificação econômica, à mesmice cultural?

Um comentário:

Anônimo disse...

Reacionários, sim, com muito orgulho. Análise muito bem elaborada. Parabéns.
Suzana