O JARDINEIRO E O FUTURO
Luiz Henrique da Silveira - 30/1/2005
Quando uma criança vê um jardineiro cortando pedaços de sua árvore preferida, fica triste, espantada, indignada. É preciso, então, que alguém, mais experiente, lhe explique que é assim mesmo: é com a poda, no tempo certo e da maneira correta, que a árvore vai ficar cada vez mais forte, robusta e florida. Mas só o tempo, ou a próxima florada, vai dar à criança a certeza de que aquela ação da tesoura do jardineiro não era um gesto brutal e destrutivo, mas, sim, uma atitude madura e consciente, uma aposta no
futuro, fruto da experiência e do conhecimento.
Essa metáfora me veio à mente pelo seu poder de jogar um pouco de luz na discussão relativa à Reforma Administrativa que encaminhamos à Assembleia Legislativa.
A palavra “envolver” tem, entre outros significados, o de cobrir, encapsular, no sentido de impedir, obstaculizar. Já a palavra “desenvolver” - significando retirar aquilo que envolve, impede, obstaculiza ou tranca -, significa romper com estruturas arcaicas, eliminar óbices, como os que impedem a sociedade de crescer e distribuir justamente os frutos do trabalho.
Pois não é nada mais do que isso o que pretendemos com a reforma: retirar tudo o que envolve, impede, obstaculiza ou tranca a potencialidade de desenvolver nosso estado como um todo, reequilibrando a nossa economia, redistribuindo as benesses do crescimento.
Tudo à nossa volta é mudança. Em todas as esferas, em todos os campos, em todas as áreas o ritmo da quebra de paradigmas é cada vez mais vertiginoso.
O psicanalista Rollo May é extremamente preciso quando nos revela que aqueles que são acometidos pela Metatesiofobia (medo das mudanças) só veem uma saída: fugir em pânico ante a iminência do desmoronamento das estruturas; acovardar-se com a perda dos referenciais conhecidos; ficar paralisados, inertes e apáticos.
O triste é que, fazendo isso, abrem mão da oportunidade de construir o futuro, se negam a exercer a característica mais distintiva do ser humano, que é a de influenciar a evolução do seu meio ambiente, capitulando frente à força inercial da história, desistindo de moldar uma sociedade futura mais justa e mais humana.
A alternativa sadia é libertar-se da Cainofobia (medo de qualquer coisa que seja nova) e participar conscientemente, mesmo em pequena escala, da formação da nova sociedade.
O cineasta e jornalista Arnaldo Jabor identificou “um Brasil triste e acabrunhado, rancoroso e reacionário, que vive do mal-estar da impossibilidade”. Mas existem antídotos contra esse baixo-astral estéril, como essas gotas de sabedoria de Mário Quintana: “Esses que aqui estão atravancando meu caminho/ eles passarão/ eu passarinho”.
Ou a sabedoria oriental expressa no I Ching: “Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano".
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