Quanta saudade!
- Quem me trouxe novidades aí da sua bela Santa Catarina foi o Jacó Anderle. Disse que você se elegeu governador e está descentralizando a administração e desconcentrando o poder, sua eterna e corretíssima obsessão. Parabéns! Estamos todos muito orgulhosos - eu, Mora, Covas, Montoro, Serjão, Archer, Severo, enfim, todos os seus amigos mais apressados para se aposentar aqui neste outro Paraíso.
- Mas ele também estava angustiado com o país e explicou suas razões. E eu que pensei que já tinha visto tudo na política...
- Deputados alugados? Vampiros e sanguessugas? Ministros denunciados como chefe e membro de quadrilha? Ministro quebrando sigilo de um humilde caseiro? Três presidentes do PT acusados de crimes? Ameaças à liberdade de imprensa, de novo? Valha-me Deus!
- Para acalmar o Jacó, saquei do meu baú trechos de uma palestra que proferi aí em Florianópolis, no dia 18 de junho de 1976, encerrando o primeiro simpósio organizado pelo Instituto Pedroso Horta, cujo tema era "O Homem e a Liberdade". Veja se não são pertinentes:
"O poder não é perigoso. Perigoso é seu exercício por homens imperfeitos, egoístas, vítimas de apoteose mental ou do culto à personalidade".
"Não se precavendo, submete-se ao regime da permissividade, em que ao Príncipe tudo é possível e à vida e às necessidades dos cidadãos só resta a angustiosa e inerte espera de outorgas paternalistas e munificentes".
"Judge Black captou a substância dos duzentos anos de vigência da Democracia nos Estados Unidos, sem golpe nem ditadores: ´É esse direito, o direito de errar, que nos mantém fortes como Nação´".
"A força da democracia é a institucionalização de sua fraqueza humana, a humildade com que confessa a fatalidade do erro e inventa dispositivos para evitá-los, diminuí-los, denunciá-los e corrigi-los".
"Há homens que vivem contentes, mesmo que vivam sem decoro. Há outros que sofrem como em agonia quando vêem que há homens que a seu redor vivem sem decoro. Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros que têm em si o decoro de muitos homens".
- Portanto, caro amigo, não se impressione com as árvores, fixe-se na floresta, como sempre fez. Dentro da democracia, tudo se resolve, ao contrário da ditadura, onde pululam e ficam impunes os Calígulas sanguinários, os Torquemadas da Inquisição e da intolerância, os enxudiosos Faruks da corrupção.
- Antes de vir para cá, o Serjão deixou um bilhete para o Fernando aconselhando-o que não se apequenasse. Não preciso lhe dar esse conselho, Luiz, pois sempre admirei sua estatura moral e sua inflexibilidade com a questão ética.
- Mas, diante das notícias que chegam por aqui (as mais recentes quem trouxe foi o Ramez Tebet), vou arriscar um conselho. Louvo sua fidelidade ao nosso velho MDB, que, apesar de tudo, decidiu apoiar o governo Lula. Não sei se foi a melhor opção, mas, como estou longe da lida e da faina diária, não me atrevo a vituperar contra a decisão tomada. Ainda assim, pelos indícios e sintomas que me foram relatados, creio que mereça ser dada atenção máxima a qualquer ameaça à liberdade de imprensa, pois, sem ela, tudo o mais cai por terra. Esse é o único limite que não pode ser ultrapassado.
- Um grande abraço do seu sempre amigo, Ulysses.
- E não se apresse em vir nos encontrar... Você ainda tem muito a fazer pelo seu Estado e pelo Brasil.
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