10 julho 2006

A ARENA DO "LOUROJOSÉ"
O sempre-de-mal-com-a-vida Anderson Loureiro cometeu mais um de seus eméticos panfletos contra tudo o que está aí...
Autoproclamado paladino das artes, continua vagando pelas páginas de jornal como aqueles patéticos cavaleiros errantes da Idade Média, em busca de façanhas que lhes comprovem o valor.
O Anderson “LouroJosé” agora resolveu dar suas bicadas nas arenas multiuso, a respeito das quais destila todo o fel acumulado em anos de ressentida infertilidade.
Pusilânime, diz: “Não tenho nada contra a cantora baiana”, não sem antes tachá-la de “musa das arenas” e “cantora aeróbica”. Como sempre faz em seus textos, mais uma vez consegue desagradar milhares com uma só penada, ofendendo todos os fãs da linda, simpática e competente Ivete Sangalo.
Irascível como sempre, o Anderson “LouroJosé” se diz contrário à mera construção de “obras com o foco centrado no material, no metal, sem ânimo, sem alma”, certamente imaginando um teatro metafísico, alquímico, quimérico, muito mais adequado a esses tempos virtuais.
Amargurado como sempre, o Anderson “LouroJosé” reclama de supostas “promessas ufanísticas como se dissessem que, agora sim, teremos contato imediato e direto com as principais companhias de teatro, de dança e de música, nacionais e internacionais, que (...) nunca param em Santa Catarina”. Além de fantasiar sobre as tais promessas, revela-se típico representante dos mercadofóbicos, seres etéreos que se consideram superiores às asperezas e baixezas de um mercado que insiste em escolher praças que tragam retorno financeiro (argh!).
Categórico e oco, pedante e vazio, pernóstico e vão, pretensioso e cavo como sempre, o destemido Anderson “LouroJosé” sugere que “seja feito também um planejamento artístico que cuide de programar bons espetáculos, em que o poder público seja parceiro, financiador e até patrocinador, se for o caso”. Seria interessante que ele perguntasse à população catarinense o que ela acha de o Estado desviar recursos escassos da segurança, da educação ou da saúde para financiar ou patrocinar “a criatividade dos ávidos e competentes artistas dessa terra”.
No conto “O empréstimo”, Machado de Assis (esq.) traça o perfil de um personagem, aparentado do intrépido Anderson “LouroJosé”, que tinha “a vocação da riqueza, mas sem a vocação do trabalho”. O resultado, como não poderia deixar de ser, é a ruína, a falência, a esmagadora sensação de fracasso, infertilidade, infecundidade. Nem Viagra nem “do-in antropológico” resolvem.
Quem quiser ostentar a folha do loureiro (Laurus nobilis), usada pelos antigos gregos e romanos na confecção das coroas dos vencedores de competições, tem de conscientizar-se de que, hoje, como sempre, ela só adorna as cabeças daqueles que conseguem livrar-se dos antolhos corporativos, romper as travas ideológicas e jogar o jogo, travar o bom combate, ir à luta.
Alguém já disse, e disse-o bem: “Desenhar é fácil: é só correr o risco”.
______________
ORIGEM DA CRÍTICA
A Arena da Ivete
Anderson Loureiro


O título acima poderia ser A Arena Universal, ou A Arena do Prefeito e até A Arena do Governador, tamanha a vontade pública (?) e a determinação cívica (?) demonstrada pelos governantes catarinenses, quando o assunto é a construção das arenas multiúso, Estado a fora. Mas o título acima pretende somente fazer uma homenagem à musa das arenas em todo o Brasil: a cantora aeróbica Ivete Sangalo. Não tenho nada contra a cantora baiana. Mas será que precisamos mesmo de uma arena multitudo? Será que os prefeitos e os governadores catarinenses - o licenciado e o que assina - acham mesmo que é disso que necessitamos? Será que eles acham realmente que essa é nossa prioridade? Pergunto isso pelo simples fato de que muito antes de se ter definido um local adequado para a famigerada arena, já havia projetos mirabolantes para sua construção e, com eles, todas as promessas ufanísticas como se dissessem que, agora sim, teremos contato imediato e direto com as principais companhias de teatro, de dança e de música, nacionais e internacionais, que sempre saem em turnê pelo País e o mundo, mas nunca param em Santa Catarina. Ou seja, basta termos a arena! Pelas promessas até agora animadamente exaradas, todas as nossas frustrações em relação à cultura findarão, todas as nossas aspirações de inclusão artística serão verdade no exato momento em que a arena da Ivete, desculpe, multiúso, estiver de pé. Então vamos todos apoiar a construção das arenas, certo? Certo. Mas, pelo sim, pelo não, vamos dar um jeito de encaminhar aos prefeitos e aos dois governadores - aqueles dois que a gente já sabe - uma humilde recomendação para que, com o projeto arquitetônico(?) das arenas, seja feito também um planejamento artístico que cuide de programar bons espetáculos, em que o poder público seja parceiro, financiador e até patrocinador, se for o caso, mas de modo que seja realmente um realizador cultural e não somente um convidado chapa-branca das primeiras filas. Que esta não seja mais uma obra com o foco centrado no material, no metal, sem ânimo, sem alma, sem contato com a população e com a classe artística. Para isso, não precisamos de arena alguma, pois os sambódromos estão bons demais. Enquanto nossos teatros por toda Santa Catarina, nossas salas de cinema, nossos espaços públicos de arte, nossos salões de exposições, nossas salas de concerto estiverem assim, com as fachadas pintadas com as cores do governo, mas sem programação de qualidade, sem o comprometimento do poder público e sem o engajamento da comunidade artística do Estado pensando junto, apoiando e exercendo suas atividades, de nada adiantarão as arenas futurísticas gestadas sob a égide da modernidade, do megaevento e do superante. Se quiser pode ver a programação da arena de São José, que é novinha. Precisamos é que os governos tenham noção de que a cultura seja talvez a principal forma de inclusão. Mas eles têm de saber que isso é algo que se faz e não se fala; que não deve ser apenas uma palavra no meio de uma folha de discurso. Para dar a oportunidade ao povo catarinense de ser um cidadão do mundo, antenado com as tendências, com sensibilidade, partindo de suas raízes artísticas, não é preciso construir nada. Basta saber usar o que se tem: os muitos espaços disponíveis e a criatividade dos ávidos e competentes artistas dessa terra. A arena que será construída pode ser só do governo. E pode ser do governo e da população, se houver parceria com os artistas e com a comunidade. Mas o pior é se depois de pronta a gente descobrir que ela é mais um elefante, um sarcófago, uma quadra de esportes ou, o que é pior, que ela é tão-somente a arena da Ivete.
Anderson Loureiro

Nenhum comentário: