19 julho 2006

INFÂNCIA PERPÉTUA OU CIDADANIA?
Nas páginas amarelas da revista Veja, edição de 28 de junho, o entrevistado foi o conceituado historiador inglês Paul Johnson.

Segundo ele, “só a criatividade pode garantir o progresso. O problema é que o homem tem uma propensão negativa a encontrar razões científicas ou morais para frear a criatividade, seja na economia, na política ou nas artes”.

Para esclarecer a dúvida sobre a possibilidade de a destrutividade anular a criatividade, ele afirma que isso acontece, e muito, e dá como exemplo “o marxismo, cuja contribuição para a humanidade foi totalmente negativa”, mas crê que, com liberdade de informação e de expressão, a tendência é que a criatividade ganhe a guerra. “São duas forças antagônicas, mas necessárias – são a tese e a antítese que vão gerar a síntese. Mas é vital que a criatividade – a tese – supere seu adversário e vença, pois só ela pode garantir o progresso”. Perguntado sobre a razão que leva o homem a ser negativista, disse apenas: “O medo, esse é o maior estimulador do atraso”.
Com a proximidade do horário eleitoral, certamente vamos ser bombardeados com milhares de informações, contra-informações, desinformações. Para conseguir sobreviver com alguma lucidez desse tiroteio, habilmente manipulado por marqueteiros de ambos os lados, é fundamental termos uma tábua de valores para nos guiar nesse bangue-bangue labiríntico.
O psicólogo norte-americano Aaron Beck (esq.) formulou o conceito de “pensamento automático”. De acordo com ele, como o cérebro humano não é capaz de analisar detalhadamente cada situação, cria alguns esquemas prévios e acaba se viciando neles. Às vezes, esse vício é tão forte que o cérebro deixa de levar em consideração os dados reais, criando o que ele definiu como “distorções cognitivas”. É contra isso que devemos nos precaver.


Nem tudo é branco nem tudo é negro. Especialmente nessa área – a política -, quase tudo é sempre cinza.

Por exemplo: a reeleição é boa ou má? Depende! Reeleger quem traiu suas promessas é um absurdo, mas reconduzir ao cargo quem as cumpriu e demonstra ter uma nova e boa plataforma, de continuidade ou de aperfeiçoamento, é prova de inteligência e maturidade cívica.


Outro exemplo: todos os políticos prometem as mesmas coisas, não dá para confiar em nenhum. Calma lá! Enquanto alguns passam a vida fazendo bravatas e prometendo o impossível, e quando chegam lá negam tudo o que pregaram, outros, quando na oposição, preferem ser econômicos nas críticas preferindo defender propostas e alternativas.

É óbvio que o preparo intelectual, a experiência e a honestidade são importantes, talvez até mesmo fundamentais, mas isso são pré-requisitos, condições sine qua non para se levar alguém a sério. Mas, então, como escolher o melhor?


Um dos maiores pensadores das sociedades, o francês Alexis de Tocqueville (esq.), ao comparar a sua conturbada França com a América, pujante e vigorosa, que tão bem estudou, lamenta o destino de seu país: “Acima dessa multidão vejo alçar-se um imenso poder tutelar, que sozinho ocupa-se em assegurar aos súditos o bem-estar e em zelar pela sua sorte. Pareceria com a autoridade paterna se tivesse como objetivo a preparação dos homens à virilidade. Mas, pelo contrário, busca somente mantê-los numa infância perpétua”.

Aí está um excelente critério para decidir entre candidatos que, “aparentemente”, prometem as mesmas coisas.

Qual deles tem medo do novo e, por isso, prefere não arriscar nada, mas apenas manter o passado congelado? Será mesmo que os juros não podem baixar? Nada revolucionário, apenas cortá-los pela metade, e, ainda assim, ficar acima do segundo maior juro do mundo. Será que alguém de boa fé, sem interesses meramente eleitoreiros, pode defender a volta da velha e desmoralizada centralização administrativa, que tantos males já nos causou?

Qual deles me considera tutelável, incapaz de participar e decidir como um cidadão dotado de criatividade e virilidade suficientes para contribuir com o desenvolvimento do meu País, do meu estado? Será que as bolsa-isso, bolsa-aquilo representam um projeto de Nação, ou será que podemos almejar algo além desse horizonte africano para o nosso País? Será que alguém honesto intelectualmente pode defender o fim da participação da sociedade nos conselhos que definem onde e como aplicar os recursos das suas regionais?

"Existem duas maneiras de se passar pela vida sem problemas: acreditar em tudo ou duvidar de tudo; de ambos os modos se evita pensar", diz o lingüista polonês Alfred Korzybski.

Não acredite em tudo nem duvide de tudo. Pense bem antes de votar.

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