HADLEYBURG REDIVIVA
Em 17 de julho de 2006,
publiquei em meu blog um texto com o título “HADLEYBURG E O PT, TUDO A VER”.
Vamos a ele.
O escritor norte-americano Mark Twain, autor das
conhecidíssimas aventuras de Huckleberry Finn e Tom Sawyer, tem uma faceta
pouco conhecida. Ele foi um dos mais ardorosos e contundentes críticos do
imperialismo do seu próprio país, tendo publicado dezenas de panfletos que
atacavam as ações ianques nas Filipinas, Panamá, México, Cuba, Nicarágua,
República Dominicana. “Eu me recuso a
aceitar que a águia crave suas garras em outras terras”, sentenciava.
Acusado de traição, retrucava: “Eu
gostaria de ensinar o patriotismo nas escolas, e o ensinaria assim: jogaria
fora a velha máxima ´Minha Pátria, certa ou errada, minha Pátria´, e em seu
lugar diria ´Minha Pátria, quando certa´”.
Twain foi, também, um analista feroz do american way of life. Escrita em 1899,
“O Homem que Corrompeu Hadleyburg” é considerada uma de suas mais brilhantes
histórias. Nela ele aborda o processo de derrocada moral de uma pequena cidade,
até então considerada um reduto de excelência de conduta. “Hadleyburg era a cidade mais honesta e honrada de toda a região. Já
mantinha esta reputação imaculada havia três gerações. (...) As cidades vizinhas tinham inveja dessa
honrada supremacia (...) mas, mesmo
assim, eram obrigadas a reconhecer que era uma cidade realmente incorruptível”.
Assim começa a história da aparentemente pura e imaculada Hadleyburg, que,
graças à engenhosidade da trama urdida por Twain, não resiste a parcas 50
páginas antes de revelar-se a mais mentirosa, corrupta e desprezível das
cidades. Hadleyburg, no fundo, era uma farsa grotesca.
Quem destampou a caixa de Pandora daquele pequeno
burgo foi um estrangeiro que, de passagem por lá, foi ofendido e humilhado por
um dos seus ilustres membros. Rancoroso, durante um ano ele arquiteta sua
vingança: corromper Hadleyburg!!! Depois de espalhar suas ardilosas armadilhas,
as tentações pelo vil metal ganham corpo celeremente no povoado. Enquanto são
facilmente derrubadas as máscaras, armaduras e carapuças dos 19 principais
cidadãos, das 19 principais famílias, eles continuam recitando, maquinalmente,
o mantra que ainda impregna suas mentes: “Não
nos deixeis cair em tentação”. Mas, ao fim e ao cabo, vence a natureza
humana, impondo-se, implacavelmente, sobre aquela frágil e débil pureza nunca
antes testada. Todos se revelam torpes, vis, malignos, ignóbeis, desprezíveis,
indignos, imorais, desonestos, aéticos.
Ao reler essa deliciosa história, não pude resistir
à imediata correlação com o PT e sua história – vestais imaculadas
transfiguradas em lambuzados mensaleiros, santarrões virginais metamorfoseados
em quebradores de sigilo, torquemadas e savonarolas convertidos à liturgia
profana de Jeany Mary Corner, pregadores flagrados pecadores, presos políticos
reduzidos a políticos presos (quem dera!).
Quando Twain fala dos 19 íntegros e impolutos, a
reação quase automática é começar a recapitular a débâcle petista para checar
se há também semelhança numérica entre as histórias: José Dirceu, Waldomiro
Diniz, Palocci, Juscelino Dourado, Rogério Buratti, Gushiken, Genoíno, Delúbio,
Silvio Pereira, Marcelo Sereno, Henrique Pizzolatto, Jorge Mattoso, Okamoto,
João Paulo Cunha, José Mentor, Josias Gomes, Paulo Rocha, João Magno -
dezenove! BINGO! -, mas poderia ser bem mais, se incluíssemos o homem-cueca, os
bispos aliados, os publicitários, os banqueiros et caterva...
Sucumbindo ao humor corrosivo de Twain, diria que
essa súcia parece pautar-se no lema do desabusado Tim Maia: "Não fumo, não bebo, não cheiro; só
minto um pouco".
A farsa do PT pode ser bem entendida a partir do que
disse o poeta norte-americano Stephen Vincent Benét: "Se a idéia é boa ela sobreviverá à derrota. Se ela for mesmo boa,
pode sobreviver até à vitória". Como se sabe, o PT sobreviveu a várias
derrotas, mas foi incapaz de resistir à vitória.
Diante desse cenário devastador, desintegrador de
valores e desarticulador das instituições, talvez só reste apelar para a farmacopeia
moral disponível nas estantes dos tempos: Demócrates: “Tudo está perdido quando os maus servem de exemplo e os bons de
deboche”. Jean-Paul de Gondi, cardeal de Retz: "Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o
respeito”. Nathaniel Lee: "Quando
homens pequenos lançam grandes sombras, é porque a noite está chegando".
Disraeli: "O momento exige que os
homens de bem tenham a audácia dos canalhas!!!". Mas, talvez, a melhor
solução seja aquela sugerida (em tom de blague) pelo publicitário
norte-americano Bill Bernbach: “Tenho uma
grande ideia: vamos dizer a verdade!”.
Decorridos seis longos anos, a tênue
esperança de ver certos ex-presos políticos reduzidos à republicana condição de
políticos presos parece prestes a se concretizar, graças à coragem, à audácia,
à honradez, à altivez, à sobranceria, à dignidade, ao brio da maioria dos 11 do
Supremo.
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