MAUS EXEMPLOS ARRASTAM
O que será que está acontecendo no âmbito da ética, da moral, dos valores e dos costumes, não só no Brasil, que hoje convive com uma das mais graves e abrangentes crises institucionais de sua história, mas no mundo todo, como se, de repente, séculos de cultivo do espírito e aprendizado democrático merecessem um desprezo e um menoscabo generalizados?
O que será que está acontecendo no âmbito da ética, da moral, dos valores e dos costumes, não só no Brasil, que hoje convive com uma das mais graves e abrangentes crises institucionais de sua história, mas no mundo todo, como se, de repente, séculos de cultivo do espírito e aprendizado democrático merecessem um desprezo e um menoscabo generalizados?
O filósofo britânico Bertrand Russell (esq.) dizia que “a humanidade tem uma moral dupla: uma que prega, mas não pratica, outra que pratica, mas não prega”.
E não foi outra coisa que fez a Fifa. Depois de colocar criancinhas desfilando com a bandeira do fairplay e exigir que alguns craques lessem frases contra o racismo, deu o título de melhor jogador da Copa para o chifrudo Zidane, uma afronta, um escárnio, um péssimo exemplo para bilhões de pessoas em todo o mundo.
E não foi outra coisa que fez a Fifa. Depois de colocar criancinhas desfilando com a bandeira do fairplay e exigir que alguns craques lessem frases contra o racismo, deu o título de melhor jogador da Copa para o chifrudo Zidane, uma afronta, um escárnio, um péssimo exemplo para bilhões de pessoas em todo o mundo.
Houve quem dissesse que talvez a votação já estivesse definida antes daquele acesso de fúria bovina, e que não daria para fazer nova votação. Bobagem! Seria ainda mais educativo dizer que, apesar de ele ter sido o mais votado, seu título fora cassado e entregue ao segundo colocado.
Afinal, como bem disse o ator alemão Klaus Kinski (esq.), “um homem deve ser julgado, sobretudo por seus vícios. As virtudes se pode fingir; os vícios são sempre genuínos".
Aqui no Brasil, minha estranheza fica por conta do comportamento da nossa grande imprensa. Ela adora reclamar, apontar erros, cobrar atitudes e posturas éticas, mas se esquece da prédica do Padre Antônio Vieira: “As palavras convencem, o exemplo arrasta”, e da advertência de Montesquieu (abaixo.): "A força do princípio arrasta tudo”.
A sua permanente - e justa - crítica às mazelas da nossa classe política, torna incompreensível o completo desprezo demonstrado pela grande imprensa nacional a um dos raros fatos edificantes da nossa recente agenda política nacional.
Se, de fato, o exemplo arrasta, por que razão a imprensa brasileira não deu a devida divulgação ao gesto do Governador catarinense renunciando aos derradeiros seis meses de seu mandato, para ficar em igualdade de condições com seus adversários? Não precisaria desmanchar-se em elogios, sonho dos assessores de imprensa, mas ao menos registrar o fato, friamente que fosse, deixando ao leitor o exercício intelectual de fazer a comparação com os demais executivos pleiteantes à reeleição.
Como Lula, por exemplo, que, na última terça-feira, cinicamente reclamou que não poderia fazer campanha no horário comercial durante a semana, como seus adversários. Ora, bastaria que renunciasse, abrindo mão do salário, do avião e de todo o aparato que lhe dá sustentação. Mas ele prefere dar o mau exemplo, o da esperteza, o da malandragem, o da Lei de Gerson.
Ao omitir-se diante do gesto do Governador, a grande imprensa nacional dá razão àqueles que a criticam como serva das más notícias, ave de mau agouro, que, quando descobre, despreza a boa notícia, privilegiando, sempre e obsessivamente, o ruim, o errado, o nefasto, tornando-se, assim, co-autora do mal-estar que impregna nossas vidas, e abdicando de sua missão de bem informar e, principalmente, formar.
O Governador Luiz Henrique cortou na própria carne, deu o exemplo, que, por emulação, poderia gerar uma saudável demanda por gestos semelhantes, além de servir, também, para minimizar a perigosa unanimidade condenatória em relação à classe política que grassa, não sem razão, na sociedade. Bem divulgada, poderia servir, também, para relativizar algumas biografias que se pretendem lustrosas, impolutas e virtuosas, ressaltando a questão levantada pelo escritor francês La Rochefoucauld (esq.): "o renome de grandes homens deve ser sempre medido pelos meios que utilizaram para consegui-lo”.
Mas para que isso ocorresse seria necessário que seu gesto tivesse sido minimamente divulgado, o que, infelizmente, não ocorreu.
“Pensar é fácil; agir é difícil. Agir de acordo com as próprias idéias é o que há de mais difícil no mundo”, sentenciava o poeta e romancista alemão Goethe (esq.).
Será que algo tão raro e tão difícil não é notícia?
Lamentavelmente, parece que aqui – e alhures - só os maus exemplos arrastam...
Um comentário:
Olá!
Lamentavelmente, o que todas as vozes proclamam a respeito da força do exemplo são verdadeiras. Essa força tem a energia de torrentes, e arrasta consigo as consciências que não sabem guiarem a si mesmas.
O que mais temos no Brasil, são exemplos, e dos piores que há, vindo de intituições que deveriam primar pelo cumprimento das leis, dos estatutos vigentes no país. O que vemos são essas torrentes ensandecidas que transbordam do mar de lama que é a Coisa Pública, em todas as esferas do poder, e de outros lamentáveis bolsões da nossa miséria social que ganham mais espaço nos meios de comunicação, que os feitos de pessoas ilustres que aqui temos. E as temos, graças a Deus, porém se encontram no limbo da anti-educação, via esquecimento.
O pior. Se há luz à frente, no tunel, saiamos da frente: é o trem que vem. E haja escárnio e mau exemplo a educar nossos jovens, e a desesperançar as consciências que ainda teimam em desejar dias melhores.
Cordial abraço.
Evaristo.
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