13 setembro 2011

Pesquisando sobre o Bolsa Escola, descobri uma preciosidade.


DISCURSO DO SENADOR CRISTOVAM BUARQUE 5/10/2010

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF) – Antes de passar a palavra ao Senador Heráclito Fortes, eu fico muito feliz com o seu aparte e quero dizer – pedindo licença ao Senador Heráclito Fortes para que S. Exª espere um pouquinho – que, quando alguém fica insistindo muito na paternidade de um filho é porque desconfia da fidelidade da esposa e eu não fico por aí, insistindo na paternidade do Bolsa Escola mas como o senhor levantou, eu quero lembrar que a idéia ficou bem clara, em 1987, no Centro de Estudos Multidisciplinares da UNB, - no Núcleo de Estudos do Brasil Contemporâneo – foi que essa idéia surgiu. Não importa se fui eu que a lancei. Ela surgiu ali. Depois, eu escrevi um texto que debati pelo Brasil inteiro, a partir de 1989 ou 1990 e que, depois, virou um livro que se chama A Revolução nas Prioridades, em que são 100 medidas para mudar o Brasil. A segunda eu, ainda, a chamava de Renda Mínima Vinculada à Educação. A primeira era Um Programa de Creches para o Brasil Inteiro e a terceira era Poupança Escola, ainda sem o nome de poupança. A terceira era o Poupança Escola, ainda sem o nome de poupança.

Em 94, quando fui candidato a governador, aí, num primeiro momento, um assessor me perguntou se a gente não podia apresentar esse projeto para o Distrito Federal. A minha primeira reação foi contrária, porque disse: se trouxermos um programa desses para um estado apenas todo mundo virá para cá. Mas aí eu pensei, e colocamos, sim, no nosso projeto, a exigência de cinco anos, pelo menos, de moradia aqui para receber o direito. A outra coisa que precisava, além da exigência de cinco anos, era criar um nome bonito, porque com o nome de Renda Mínima vinculado à educação ninguém consegue passar a ideia para a população. É bom para livro, é ruim para campanha eleitoral. E aí a gente queria não apenas criar o Programa, mas ganhar votos também, é claro. Foi aí que preparei a ideia e levei para os marqueteiros. Criei a idéia do Bolsa Escola por falta de outro nome. Não sei por que o nome foi esse, era uma Bolsa vinculada à escola. Eles aceitaram. Em 94, comecei a divulgar isso. O meu primeiro gesto de governo foi criar o Bolsa Escola. Logo depois, o Poupança Escola. E aí é que veio o grande erro. Essas duas coisas deviam ter um nome só, o Bolsa Escola deveria ser as duas coisas, a renda mensal com a exigência da frequência às aulas, e o depósito em caderneta de poupança contra a aprovação da criança. Devia ser uma coisa só. Criamos como duas separadas, mas elas funcionaram aqui. O Presidente Fernando Henrique Cardoso, quatro anos depois – e quero dizer que lutei muito nesses quatro anos do Governo, eu aqui e o Presidente Fernando Henrique lá, para que ele criasse...

Lembro de, quando fui visitá-lo na transição, no escritório dele no Lago Sul, ter levado o meu livro de presente para ele, sugerindo: Presidente, por que o Senhor não cria esse Programa? Aliás, quero fazer aqui um registro. Fui do governo paralelo, criado pelo Presidente Lula em 90. Eu levei essa ideia para a reunião do governo paralelo, que foi recusada. O governo paralelo recusou essa ideia. Lembro bem que o Dr. Barelli, que era assessor econômico, disse que não fazia sentido. E o documento que depois publicamos, que é assinado pelo Presidente Lula...

O Sr. Heráclito Fortes (DEM – PI) – V. Exª pode repetir o nome do assessor?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT – DF) – Barelli, que foi do Dieese. Foi ele que disse que não fazia sentido. Foi eliminado. Tanto que no pequeno documento, assinado...

O Sr. Heráclito Fortes (DEM – PI) – Onde anda ele? V. Exª está aqui, no Senado da República.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDB – DF) – Não sei. O pequeno documento, assinado pelo então Luiz Inácio Lula da Silva, não presidente, e por mim, numa co-autoria, um documento com propostas para a educação, lançado em 90. Não entrou o Bolsa Escola. O Lula perdeu aí a chance da paternidade, porque não entrou, entraram outras medidas para a educação. E o PT não foi favorável ao Bolsa Escola aqui no Distrito Federal. Sofri muito para convencê-lo disso, especialmente ao Sindicato dos Professores. Isso era chamado de política compensatória, era o nome que se dava. Lembro que eu dizia: por que pagar uma criança para estudar é política compensatória, mas pagar em dólares para alguém já formado ir estudar na Europa não é política compensatória, é investimento? Esse era o debate. Mas diziam: mas é melhor colocar esse dinheiro para pagar melhor os professores. Aí mostrei que se aquele dinheiro fosse distribuído aos professores o aumento seria de 1,5%, não ia adiantar nada, mas era um salário mínimo inteiro o que a gente pagava aqui, o que não proponho para o Brasil todo.

Aqui sim, porque o número é menor, porque é possível, porque custa mais viver aqui do que em pequenas cidades do interior. Então, essa é a idéia, assim que surgiu. O Presidente Fernando Henrique no começo recusou. Eu tenho as cartas guardadas em que eu mandei para ele e para o meu amigo, Paulo Renato Souza, que esnobou a idéia no primeiro momento e insiste que começou em Campinas. Se fosse assim, o Governo Fernando Henrique Cardoso teria começado em 95, se fosse uma coisa lá de Campinas. Agora, Campinas começou a executar praticamente no mesmo momento em que nós aqui. Por quê? Porque o prefeito tinha sido eleito dois anos antes que eu, Grama.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM – PI) – Grama.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT – DF) – Grama. Ele tinha sido eleito dois anos antes. Eu fui a Campinas ajudar a implantar. Fui lá, conversei com ele, debati com ele e ele implantou, na verdade, quase no mesmo momento mas dois anos depois, no terceiro ano do governo dele e não era exatamente o Bolsa Escola, estava mais perto do Bolsa Família. Primeiro, porque a gestão era na Secretaria de Assistência Social, não na Secretaria de Educação; segundo, porque a vinculação à educação não era suficientemente rígida. O Presidente Fernando Henrique Cardoso, então, demorou muito, mas no fim colocou. E, quando colocou – a isso é preciso fazer justiça – ele teve uma generosidade raríssima em um político, ele manteve o nome de um programa que vinha do governo de um partido a que ele fazia oposição. E nas reuniões de criação do programa dentro do Governo Fernando Henrique muitos sugeriram que mudasse o nome. E foi ele – eu soube depois – foi ele, o próprio Fernando Henrique que disse: “Não, esse nome está aí, vamos manter esse nome”. Essa é uma generosidade muito rara na política. O que mais a gente faz em política é mudar o nome daquilo que o governador, o presidente ou o prefeito de antes fez.
O Presidente Fernando Henrique Cardoso manteve o nome. Se não fosse isso, o nome Bolsa Escola tinha desaparecido, porque, vamos falar com franqueza, o nome Bolsa Escola só se espalhou porque virou um programa nacional.

10 setembro 2011

"9/11 - THE NAUDET BROTHERS DOCUMENTARY"


Quem ainda não assistiu ao documentário "9/11 - The Naudet Brothers Documentary" não deixe de ver, é terrivelmente fantástico. O filme traz imagens feitas antes, durante e depois da tragédia. Vale dizer que o filme tem 1 hora e 44 minutos.

SINOPSE

O material foi registrado por acaso pelos irmãos franceses Jules e Gedeon Naudet, que, ainda em julho, começaram a registrar a rotina de um típico bombeiro norte-americano, acompanhando o dia de treinamento de um novato “virando homem”. Depois de acompanhar durante vários meses a vida do jovem futuro bombeiro, Tony Benetatos, sem que nada de importante acontecesse, por ironia do destino na manhã de 11 de setembro de 2001 eles estavam no lugar certo e na hora certa, sendo os únicos a registrar o início da tragédia, quando o primeiro avião atingiu uma das torres.

O destino, além de colocar os dois documentaristas em meio à loucura, também os separou. Jules tinha ido fazer a cobertura de um singelo vazamento de gás nas ruas, enquanto Gedeon ficava no posto dos bombeiros captando imagens do novato Tony Benetatos. Por golpe desse mesmo destino, o jovem cinegrafista Jules Naudet, menos experiente com a câmera que seu irmão, Gedeon, conseguiu captar a única imagem do primeiro avião colidindo com o World Trade Center, registrando um evento que entraria para a história, daqueles que, em séculos, é possível presenciar uma única vez.

Por instinto ou mero acaso, ao ouvir um forte rugido no céu Jules virou sua câmera com o foco no avião no exato momento de registrar a única imagem existente da primeira aeronave colidindo com o World Trade Center.

Dentro de uma das torres ou fora delas, as imagens dos dois irmãos se buscam o tempo todo. Em seus melhores momentos, as imagens do documentário são caóticas e confusas como a própria vida. Ninguém, nem o aprendiz de cinegrafista nem os bombeiros veteranos, sabe muito bem o que está acontecendo ou o que fazer. O medo está no olhar de todos. Pelas imagens, não se entende nem se tenta explicar nada.

O que há de mais importante e dramático neste documentário não são as palavras nem as imagens. Não há como esquecer a horrível trilha sonora - um barulho ensurdecedor ao fundo que insistia em alertar que corpos caiam como uma chuva macabra. O som da morte. Mas o documentário não traz nenhuma imagem grotesca ou chocante. Em “9/11”, o medo e a correria não podem ser confundidos com a falta de profissionalismo. Os cineastas evitaram mostrar cenas fortes, como pessoas queimadas ou corpos caindo de cima do prédio. O som das quedas sobre o saguão é ainda mais assustador que qualquer imagem sensacionalista. As imagens são preenchidas pela nossa própria imaginação.

O feito mais impressionante de “9/11” é colocar o espectador dentro do WTC no momento em que a primeira torre desaba. Jules estava junto da equipe de bombeiros no saguão de um dos prédios. Vários homens já haviam subido para iniciar o resgate. De repente, o som ao fundo cresce. Desta vez não são mais os corpos que caem, mas o mundo inteiro que está desabando. A primeira torre começa a ruir, a poeira escurece tudo e a pequena luz da câmera do jovem Jules é que indica o único caminho para a fuga. Não se vê nada. A câmera de Gideon registra sua fuga desse inferno e testemunha, sempre "ligada", sua própria luta pela vida.

Na seqüência, começa a correria para encontrar uma saída – o que se vê é apenas poeira e mais poeira, a se perder de vista. Pelas ruas, Jules continua a captar imagens impressionantes.

Ao desligarem suas câmeras para o triste/alegre reencontro (não sabiam o paradeiro do outro), um terceiro cinegrafista registra o momento de lágrimas entre os franceses.


9/11 (The Naudet Brothers Documentary)