22 dezembro 2012

AONDE IRÁ O PT?

- SERGIO FAUSTO -
O Estado de S.Paulo - 22/12/2012

Nenhum outro partido tem raízes populares comparáveis às do PT. Não há outro líder político brasileiro com a história de Lula. Essas duas credenciais, no entanto, têm sido utilizadas para negar, encobrir e/ou justificar práticas flagrantemente contrárias ao próprio ideário republicano de que o partido e seu líder maior se diziam os mais legítimos defensores. Não se trata de práticas episódicas, mas de ações sistemáticas pelas quais instituições e recursos públicos são postos a serviço dos interesses do PT e de seus membros.

É uma tragédia política, porque todo país civilizado precisa de uma esquerda verdadeiramente republicana e democrática. E o PT, que poderia representá-la, afasta-se cada vez mais dessa possibilidade. O partido adquire semelhanças crescentes com o velho PRI mexicano - pela interpenetração de partido, Estado e sindicatos - e com o peronismo argentino - pelas mesmas razões, acrescidas da mística criada em torno de seu líder maior.

A possibilidade histórica de o PT representar uma esquerda democrática e republicana se perdeu - resta saber se definitivamente - em meio à sua transformação num partido pragmático e organizado. O velho PT sectário, fechado dentro da esquerda, e consumido por uma vida interna tão vibrante quanto entrópica, cedeu lugar a uma organização partidária orientada para acumular recursos financeiros, ganhar eleições e governar com amplas alianças.

A experiência em governos estaduais e municipais de grandes cidades tornou o partido mais realista e moderado. O acesso a fundos e empregos públicos em cargos de confiança substituiu, em boa medida, para uma parte importante da militância, os estímulos morais que a crença ingênua num difuso ideal socialista oferecia ao petismo original. O horizonte político-teórico convergiu para o projeto de colocar o "Lula lá". Toda discussão sobre socialismo e democracia, ética e política foi posta à margem.

Quando o PT chegou ao governo federal, abriram-se portas ainda mais largas para fortalecer a máquina partidária, organizações e movimentos ligados ao partido. Além disso, criaram-se perspectivas de ascensão social sem precedentes para quadros e militantes partidários. Por meios formalmente legais (nomeação para cargos de confiança, transferência de parte da contribuição obrigatória às centrais sindicais, etc.) ou inteiramente ilícitos, o governo Lula atuou com desenvoltura, em todas as frentes, para contemplar o conjunto dos apetites. O presidente foi pródigo, pelo menos na complacência com o malfeito. Como houve maior redução da desigualdade e da pobreza em seu governo, qualquer crítica passou a ser "udenismo golpista".

O paradoxo desse processo é que a incorporação do PT ao governo e às elites políticas - um elemento indispensável e positivo da democratização do País -, ao invés de fortalecer, enfraqueceu as instituições e a ética republicanas. Um conservador cínico diria que esse foi o custo inevitável para domesticar o partido. Para quem não é uma coisa nem outra, cabe fazer duas perguntas: era realmente inevitável? E, mais importante, devemo-nos conformar com esse custo, mesmo sabendo que ele se pode perpetuar e crescer?

Há exemplos históricos recorrentes de que a ascensão de novos grupos sociais à elite política vem acompanhada de aumento da corrupção. Esta frequentemente ganha caráter sistemático quando a democratização da elite se faz pela entrada de partidos de massa e corporações sindicais. Dessa perspectiva, a Europa é a exceção no mundo ocidental. Nos Estados Unidos, essa foi a regra, em particular nas grandes cidades industriais do norte, como Nova York e Chicago. Na América Latina também, salvo no Chile e no Uruguai.

Essa constatação, porém, não isenta os atores políticos de responsabilidade. No caso do PT, sobressaem dois movimentos concomitantes ao longo de sua história: de um lado, seus líderes e sua militância, com honrosas exceções, jamais assumiram como patrimônio coletivo da democracia brasileira a construção institucional feita a partir da Constituição de 1988 (valeram-se dessas instituições, isso sim, seletiva e instrumentalmente, como é notório na relação esquizofrênica do partido com o Ministério Público e a imprensa); de outro, curvaram-se à lógica da conquista e manutenção do poder quando esta se chocou com princípios éticos em episódios cruciais da trajetória do partido.

Nunca será demais lembrar de Paulo de Tarso Venceslau, militante histórico da esquerda e então secretário de Finanças de São José dos Campos, que em 1995 levou ao conhecimento de Lula denúncias sobre um esquema de corrupção orquestrado por Roberto Teixeira, empresário-compadre do líder maior do partido, em prefeituras do PT. Para apurar as denúncias criou-se uma comissão que recomendou punição a Teixeira. Nada foi feito. Três anos depois, Venceslau seria expulso do partido. Dos membros daquela comissão, o único a se insurgir foi Hélio Bicudo. E se outros tivessem tido a sua coragem? E se Lula tivesse dado o exemplo, cortando na própria carne? A verdade é que não dá para se esconder atrás da história e da sociologia para justificar tudo isso que está aí.

Coragem cívica anda em falta. Não se espere isso dos apparatchiks da máquina petista. O que mais constrange é o silêncio dos intelectuais próximos ao partido. Uma exceção é Eugênio Bucci. Leia-se e releia-se o seu "O inferno astral da estrela branca" (29/11/2012). Diz ele que o PT "precisa arcar com a responsabilidade de fortalecer a democracia que ajudou a conquistar". O difícil é que isso implica enfrentar a herança de Lula e José Dirceu, sem os quais, para o bem e para o mal, o PT não seria o que é hoje.

Uma coisa é certa: o PT não mudará enquanto estiver no Planalto. Caberá aos eleitores fazê-lo descer novamente à planície. Pois só a derrota ensina.

*COMENTÁRIO: Discordo, radicalmente, da avaliação de que o Eugênio Bucci seja uma exceção. Seu texto é uma pletora de mentiras.
HORA DA SENSATEZ

- Míriam Leitão -
O Globo - 22/12/2012

A acertada decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal desanuviou o clima. Bom momento para pensar sobre os eventos dos últimos dias. O PT enfraquece a democracia quando a compara a um regime de exceção, o presidente da Câmara dos Deputados afronta princípios constitucionais, e o Senado esteve a um passo de desmoralizar o processo legislativo.

Joaquim Barbosa se debruçou sobre um caso em que não havia jurisprudência. O Supremo, como o nome diz, é a última instância, mas existem caminhos para recorrer a ele mesmo na finalização do processo. Os recursos não são manobras protelatórias, são direitos. Os condenados têm endereço certo, responderam em liberdade e tiveram passaportes recolhidos. O melhor é que o momento da prisão seja decidido quando estiverem esgotados os recursos e pelo voto do colegiado.

Certamente, não foram as frequentes ameaças do Partido dos Trabalhadores, e de vários dos seus dirigentes, que sedimentaram a decisão tomada pelo presidente do STF. Foi a decisão acertada.

Superada a tensão em relação ao risco de prisão imediata dos condenados, é bom refletir sobre o espetáculo dos últimos dias que mostrou o quanto o ambiente tem se degradado por ação ou omissão de líderes políticos e governantes.

As declarações do presidente da Câmara, Marco Maia (foto), são sempre tão inadequadas que só resta o consolo de que o seu mandato na presidência está acabando. A ideia de usar a instituição que preside como refúgio de criminosos é espantosa. Pelo menos um dos deputados tem sido presença constante em escândalos.

O que o deputado Marco Maia faz é para seguir o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que deu a seguinte ordem à sua facção partidária: “O importante agora é reforçar Marco Maia e depois é a hora de ir para a rua.” Maia dispõe da Câmara como se ela fosse uma trincheira de José Dirceu.

Um condenado em desespero diz o que lhe vem na telha, entra em regressão e delira. Acredita estar enfrentando a ditadura contra a qual lutou na juventude. No seu estado, pode-se até desculpar a confusão mental. O inaceitável é que o presidente da Câmara ponha uma instituição da República à disposição de réus. Imagine que absurdo seria o país viver uma crise institucional por ter o deputado Marco Maia oferecido asilo no território da Câmara a um deputado como Valdemar Costa Neto, useiro e vezeiro de mal feitos.

A questão sobre quem pode cassar mandatos parlamentares, e em que circunstância, foi debatida no STF e dividiu a corte. O voto de desempate foi dado pelo decano Celso de Mello, de forma clara e convincente. O caso em nada se parece com as vezes em que a Câmara rejeitou cassar deputados ameaçados pelo arbítrio. Se os mandatos fossem mantidos, seria um despropósito. No mínimo, porque não teriam como comparecer ao Congresso.

Em outra ópera bufa, o presidente do Senado, José Sarney, quase levou o parlamento a mais desmoralização. Felizmente, houve um recuo no projeto de votar 3 mil vetos presidenciais numa tarde. Sarney está terminando o oitavo ano, desde 1995, em que exerce a presidência do Senado. Portanto, uma grande parte daqueles vetos está lá estacionada por falha dele.

Os últimos dias foram tensos. Muita sandice foi dita por quem deveria ter compostura. Quem deveria segurar seus radicais omitiu-se completamente. Os réus tiveram nos últimos sete anos todos as chances de defesa e garantias oferecidas pelo Estado de Direito. Só quem não entende de democracia pode confundir o que o país vive hoje com regime de exceção.

21 dezembro 2012


Lula é vagabundo com todas as letras e definições, mas crê que seus desafetos são iguais a ele.

- Ucho Haddad -

Dono de verborragia que não coaduna com o cargo que ocupou, Luiz Inácio da Silva é o retrato vivo do pior e mais corrupto período político da história do Brasil. Lula, o semideus, tem motivos de sobra para estar atormentado, mas descontrole sempre foi o seu forte, especialmente quando está acuado e tenta reagir. Essa atitude animalesca de ir contra o eventual predador faz de Lula um personagem da pior espécie, um exemplar détraqué da raça humana.
Covarde contumaz, pois nunca fala o que pensa a respeito de alguém de forma direta e objetiva, Lula certa feita chamou de “idiota” o secretário-geral da FIFA, Jérome Valcke, que cometeu o pecado de externar sua justa preocupação com os aeroportos brasileiros. Herói de botequim, pois só os ébrios se enchem de repentina coragem, o ex-presidente vociferou a ofensa de maneira transversa e inominada, pois o ex-metalúrgico não honra as calças que veste. Lula é um borra-botas com todas as letras.
Preocupado com os desdobramentos de diversos escândalos de corrupção, os quais podem levá-lo de roldão ao núcleo de cada um dos imbróglios, Lula saiu de cena durante duas semanas, tempo suficiente para a camarilha petista organizar um esquema de blindagem e disparar ordens aos genuflexos filiados ao partido. Montada a farsa, Lula voltou de viagem com meia dúzia de palestras canceladas, o que turbinou ainda mais a sua ira. Não pelo dinheiro que deixará de receber, pois o vil metal ele soube amealhar durante os oito anos em que esteve no Palácio do Planalto, mas pelos arranhões em sua imagem.
Sem saber no que podem dar as investigações do Ministério Público Federal a partir das recentes denúncias de Marcos Valério ou, então, temendo um descontrole de Rosemary Noronha, a Marquesa de Garanhuns, que pode abrir a boca a qualquer momento e revelar o que sabe, Lula está literalmente atordoado. Cenário nada favorável para quem está se recuperando de um câncer.
Durante evento no ABC paulista, onde falou para ensandecida claque de sindicalistas, Lula voltou a abusar do “non sense” e declarou que percorrerá o Brasil em 2013 e que não será derrotado por qualquer “vagabundo”. Como sempre tomado pela covardia, o ex-metalúrgico mandou um recado sem destinatário e sem endereço, pois metade do Brasil quer vê-lo derrotado. Considerando que o que mais lhe preocupa no momento é uma eventual ação do Ministério Público, Lula pode ter chamado Roberto Gurgel de “vagabundo”. Se o procurador-geral da República era o alvo do xingamento, Lula pode ter se equivocado e precipitado, pois de “vagabundo” ele nada atem. Até porque, Roberto Gurgel prometeu entregar no STF, na sexta-feira, o pedido de prisão imediata dos mensaleiros condenados, mas se antecipou e entregou dois dias antes. Em outras palavras, Gurgel, diferentemente de um “vagabundo”, trabalhou arduamente e com afinco e celeridade.
Considerando que o MP é o seu calcanhar de Aquiles, Lula pode ter chamado de “vagabundo” o seu outrora salvador e agora desafeto Marcos Valério, que foi até Roberto Gurgel para contar detalhes extras e comprometedores sobre o Mensalão do PT, que o ex-presidente inicialmente admitiu, depois negou, para, ao final, dizer que foi um golpe articulado pela oposição, setores da imprensa e Judiciário. O que mostra que a Lula falta imaginação e criatividade, pois o discurso é velho e repetitivo.
Admitindo que Lula tenha usado o vernáculo “vagabundo” para se referir ao publicitário mineiro, apenas porque contou um pouco de tudo o que sabe, Lula deveria conceder a mesma deferência a Roberto Jefferson, o delator do Mensalão do PT. Que também contou o que sabia, quiçá apenas parte. Se na opinião de Lula o operador do mensalão é “vagabundo” porque foi condenado, vagabundos também são os outros 24 condenados.
Se a namorada Rosemary Noronha não suportar a pressão, surtar e resolver contar tudo o que de errado aconteceu no escritório paulistano da Presidência da República, Lula, por questão de coerência, terá de chamá-la de “vagabunda”. O que ninguém sabe se esse é o real pensamento de Dona Marisa sobre a Marquesa de Garanhuns.
Como o seu primeiro diploma foi o de presidente da República, Lula pode não saber o significado exato da palavra “vagabundo”. Nos bons dicionários da língua portuguesa, que o petista jamais ousou abrir ao menos uma vez, há diversas definições para “vagabundo”. A primeira faz menção àquele que é nômade, andarilho, vagamundo. Tomando por base as inúmeras, quase intermináveis, viagens internacionais que fez, Lula é um “vagabundo”. Levando-se a sério a afirmação de que ele andará pelo Brasil, em 2013, Lula está prestes a ser novamente um “vagabundo”.
A segunda definição para o vernáculo também se encaixa com Lula, pois faz referência àquele que é “vadio, desocupado ou que faz as coisas sem vontade”. Pois bem, voltando no tempo e parando em 1988, ano da Assembleia Nacional Constituinte, Lula, alegando que no Congresso existiam trezentos picaretas, virou as costas e não mais voltou à labuta. Como estava sem vontade de cumprir os compromissos de um parlamentar, Lula tornou-se um “vagabundo”. Durante parte da vida, Lula se instalou na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos, cargo típico de desocupado. Portanto, segundo o Aulete, Lula é “vagabundo” de longa data.
A terceira definição do dicionário para a palavra “vagabundo” refere-se a quem demonstra inconstância ou é volúvel. Analisando sua ideologia ao longo dos anos, Lula é um perfeito “vagabundo”. Em relação a ser solúvel, Lula é um “vagabundo” inconteste. Afinal, durante duas décadas criticou os banqueiros e o FMI, mas para chegar ao poder se aliou aos primeiros e depois emprestou dinheiro ao segundo. Outra prova da sua volubilidade está relacionada ao senador José Sarney, a quem criticou com palavras duras durante longos anos, mas no primeiro aperto na presidência pediu ajuda ao maranhense.
A quarta definição faz referência ao reles, ordinário, inferior. Como presidente ele conseguiu ser reles. Como político não precisou de esforço algum para ser ordinário, que é aquele de baixo valor moral e intelectual. Como alguém que promete e não cumpre, ele é inferior. Resumindo, nesses três quesitos Lula não deixa dúvidas de que é um “vagabundo” de carteirinha e com direito a fã clube.
Por fim, o dicionário traz uma definição que faz referência a quem é infame, canalha e desonesto. No quesito da infâmia, Lula é um “vagabundo” ousado e mundialmente conhecido. Como o canalha é aquele que comete ações “vis, desprezíveis e indignas”, segundo o Aulete, Lula é um perfeito “vagabundo”. Na seara da desonestidade, Lula já mostrou essa sua vertente ao abafar escândalos diversos. Um deles foi o do fatídico Dossiê Cuiabá, cujos aloprados foram presos pela Polícia Federal, em São Paulo, com R$ 1,7 milhão em dinheiro. E o delegado do caso foi afastado. Outro viés da sua desonestidade ficou provado na tentativa de chantagear o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, para que o julgamento do Mensalão do PT fosse adiado. Somando tudo isso, Lula é um “vagabundo” considerável.
Hoje, Lula não passa de um reles cidadão e a ele me dirijo como sempre fiz nos tempos de presidência. Assim como milhões de brasileiros de bem, considero Lula um vagabundo com todas as letras e rimas, além de acintoso. O que causa mais tristeza é que durante oito anos, por culpa de uma parcela incauta que foi abduzida pelas esmolas sociais e pelas pilhas de carnês vencidos, o Brasil esteve nas mãos de um vagabundo, agora sem as aspas porque a declaração é minha e não sou covarde como ele, que destruiu o País, levando-o à encruzilhada da insolubilidade. Coisa de vagabundo.
Caso Lula ouse me chamar de vagabundo, esse vagabundo terá de acertar as contas comigo, pois o meu conhecimento e o meu intelecto não me permitem uma nivelação tão rasa, chula e desprezível. Como o Natal está batendo à porta, pedirei ao bom Noel, mesmo com certo atraso, um presente não material. Que Lula deixe de aparecer por causa das sandices que balbucia, não sem antes se contentar com a insignificância de um vagabundo que acredita ser herdeiro de Aladim. E eu, Lula, mesmo não sendo um vagabundo desses que você conhece, farei tudo o que estiver ao meu alcance para derrotá-lo. Anote!

ROUBAR PELO POVO

- Carlos Alberto Sardenberg -

Intelectuais ligados ao PT estão flertando com uma nova tese para lidar com o mensalão e outros episódios do tipo: seria inevitável, e até mesmo necessário, roubar para fazer um bom governo popular. 
Trata-se de uma clara resposta ao peso dos fatos. Tirante os condenados, seus amigos dedicados e os xiitas, ninguém com um mínimo de tirocínio sente-se confortável com aquela história da “farsa da mídia e do Judiciário”.
Se, ao contrário, está provado que o dinheiro público foi roubado e que apoios políticos foram comprados, com dinheiro público, restam duas opções: ou desembarcar de um projeto heroico que virou bandidagem ou, bem, aderir à tese de que todo governo rouba, mas os de esquerda roubam menos e o fazem para incluir os pobres.
Vimos duas manifestações recentes dessa suposta nova teoria. Na Folha, Fernanda Torres, em defesa de José Dirceu, buscou inspiração em Shakespeare para especular: talvez seja impossível governar sem violar a lei.
No Valor, Renato Janine Ribeiro escreveu duas colunas para concluir: comunistas revolucionários não roubam; esquerdistas reformistas roubam quando chegam ao governo, mas “talvez” tenham de fazer isso para garantir as políticas de inclusão social.
Tirante a falsa sofisticação teórica, trata-se da atualização de coisa muito velha. Sim, o leitor adivinhou: o pessoal está recuperando o “rouba mas faz”, criado pelos ademaristas nos anos 50. Agora é o “rouba mas distribui”.
Nem é tão surpreendente assim. Ainda no período eleitoral recente, Marilena Chauí havia colocado Maluf no rol dos prefeitos paulistanos realizadores de obras, no grupo de Faria Lima, e fora da turma dos ladrões.
Fica assim, pois: José Dirceu não é corrupto, nem quadrilheiro - mas participou da corrupção e da quadrilha porque, se não o fizesse, não haveria como aplicar o programa popular do PT.
Como se chega a esse incrível quebra-galho teórico? Fernanda Torres oferece uma pista quando comenta que o PT se toma como o partido do povo brasileiro. Ora, segue-se, se as elites são um bando de ladrões agindo contra o povo, qual o problema de roubar “a favor do povo”?
Renato Janine Ribeiro trabalha na mesma tese, acrescentando casos de governos de esquerda bem sucedidos, e corruptos. Não fica claro se são bem sucedidos “apesar” de corruptos ou, ao contrário, por serem corruptos. Mas é para esta ultima tese que o autor se inclina.
Não faz sentido, claro. Começa que não é verdade que todo governo conservador é contra o povo e corrupto. Thatcher e Reagan, exemplos máximos da direita, não roubavam e trouxeram grande prosperidade e bem estar a seus povos. Aqui entre nós, e para ir fundo, Castello Branco e Médici também não roubavam e suas administrações trouxeram crescimento e renda. 
Por outro lado, o PT não é o povo. Representa parte do povo, a majoritária nas últimas três eleições presidenciais. Mas, atenção, nunca ganhou no primeiro turno e os adversários sempre fizeram ao menos 40%. E no primeiro turno de 2010, Serra e Marina fizeram 53% dos votos.
Por isso, nas democracias o governo não pode tudo, tem que respeitar a minoria e isso se faz pelo respeito às leis, que incluem a proibição de roubar. E pelo respeito à opinião pública, expressa, entre outros meios, pela imprensa livre.
Por não tolerar essas limitações, os partidos autoritários, à direita e à esquerda, impõem ou tentam impor ditaduras, explícitas ou disfarçadas. Acham que, por serem a expressão legítima do povo, podem tudo.
Assim, caímos de novo em velha tese: os fins justificam os meios, roubar e assassinar.
Renato Janine Ribeiro diz que os regimes comunistas cometeram o pecado da extrema violência física, eliminando milhões de pessoas. Mas eram eticamente puros, sustenta: gostavam de limusines e dachas, mas não colocavam dinheiro público no bolso. (A propósito, anotem aí: isto é uma prévia para uma eventual defesa de Lula, quando começam a aparecer sinais de que o ex-presidente e sua família abusaram de mordomias mais do que se sabe).
Quanto aos comunistas, dizemos nós, não eram “puros” por virtude, mas por impossibilidade. Não havia propriedade privada, de maneira que os corruptos não tinham como construir patrimônios pessoais. Roubavam dinheiro de bolso e se reservavam parte do aparelho do estado, enquanto o povo que representavam passava fome. Puros?
Reparem: na China, misto de comunismo e capitalismo, os líderes e suas famílias amealharam, sim, grandes fortunas pessoais.
Voltando ao nosso caso brasileiro, vamos falar francamente: ninguém precisa ser ladrão de dinheiro público para distribuir Bolsa Família e aumentar o salário mínimo.

O INIMPUTÁVEL
EDITORIAL
20 de dezembro de 2012

Eis a palavra de ordem: Luiz Inácio Lula da Silva paira acima da Justiça, e o seu detrator, o publicitário Marcos Valério, é um desqualificado. Desde que, na semana passada, este jornal revelou que o operador do mensalão, em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em setembro último, acusou o ex-presidente de ter aprovado o esquema de compra de votos de deputados e de tirar uma casquinha da dinheirama que correu solta à época do escândalo, o apparat petista e os políticos governistas apressaram-se a fazer expressão corporal de santa ira: "Onde já se viu?!".
Apanhado em Paris pela notícia da denúncia, Lula limitou-se a dizer que era tudo mentira, alegou indisposição para não comparecer a um jantar de gala oferecido pelo presidente François Hollande à colega brasileira Dilma Rousseff e, no dia seguinte, fugiu da imprensa, entrando e saindo dos recintos pela porta dos fundos - algo não propriamente honroso para um ex-chefe de Estado que se tem em altíssima conta. Em seguida, usando como porta-voz o secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, declarou-se "indignado". Outros ministros também se manifestaram. Como nem por isso as acusações de Valério se desmancharam no ar, nem o PT ocupou as praças para fulminá-las, os políticos tomaram para si a defesa do acusado.
Na terça-feira, um dia depois do término do julgamento do mensalão, oito governadores se abalaram a São Paulo em romaria de "solidariedade" a Lula, na sede do instituto que leva o seu nome. De seu lado, a bancada petista na Câmara dos Deputados promoveu na sala do café da Casa um ato pró-Lula. Foi um fracasso de bilheteria: poucos parlamentares da base aliada (e nenhum senador) atenderam ao chamado do líder do PT, Jilmar Tatto, para ouvir do líder do governo Dilma, Arlindo Chinaglia, que Lula "é (sic) o maior presidente do Brasil", além de "patrimônio do País", na emenda do peemedebista Henrique Eduardo Alves, que deve assumir o comando da Câmara em fevereiro. Não faltaram, naturalmente, os gritos de "Lula, guerreiro do povo brasileiro".
Já a reverência dos governadores - aparentemente, uma iniciativa do cearense Cid Gomes - transcorreu a portas fechadas. Havia três petistas, dois pessebistas (mas não Eduardo Campos, que se prepara para ser "o cara" em 2014 ou 2018), dois peemedebistas e um tucano, Teotônio Vilela Filho, de Alagoas, autodeclarado amigo de Lula. Seja lá o que tenham dito e ouvido no encontro, os seus comentários públicos seguiram estritamente a cartilha da intocabilidade de Lula, com as devidas variações pessoais. Agnelo Queiroz, do PT do Distrito Federal, beirou a apoplexia ao proclamar que Valério fez um "ataque vil, covarde, irresponsável e criminoso" a Lula. "Só quem confia em vigarista dessa ordem quer dar voz a isso."
Não se trata, obviamente, de confiar em vigaristas, mas de respeitar os fatos. Valério procurou o Ministério Público - não vem ao caso por que - para fazer acusações graves a um ex-presidente e ainda figura central da política brasileira. Não divulgá-las seria compactuar com uma das partes, em detrimento do direito da sociedade à informação. Tudo mais é com a instituição que tomou o depoimento do gestor do mensalão, condenado a 40 anos. Ainda ontem, por sinal, o procurador-geral Roberto Gurgel, embora tenha mencionado o contraste entre as frequentes declarações "bombásticas" de Valério e os fatos apurados, prometeu examinar "em profundidade" e "rapidamente" as alegações envolvendo Lula.
Não poderia ser de outra forma. "Preservar" o ex-presidente, como prega o alagoano Teotônio Vilela Filho, porque ele tem "um grande serviço prestado ao Brasil", é incompatível com o Estado Democrático de Direito. O que Lula fez pelo País pode ser aplaudido, criticado ou as duas coisas, nas proporções que se queiram. O que não pode é torná-lo literalmente inimputável. Dizer, por outro lado, como fez o cearense Cid Gomes, que Valério não foi "respeitoso com a figura do ex-presidente e com a memória do Brasil" põe a nu a renitente mentalidade que evoca a máxima atribuída ao ditador Getúlio Vargas: "Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei".

11 dezembro 2012


GOERING E VERMEER

Hermann Goering fundou a Gestapo, em 1933, e entregou seu comando a Himmler. Foi nomeado comandante-chefe da Luftwaffe e era o imediato de Hitler e seu sucessor designado.


No entanto, sua posição ficou substancialmente enfraquecida a partir de 1942, devido à incapacidade da Luftwaffe de cumprir com os seus objetivos.

Em função disso, retirou-se quase por completo da cena política e militar e concentrou-se na pilhagem ou compra de propriedades e de objetos de arte, grande parte retiradas das vítimas judaicas do Holocausto.

Graças ao poder que ainda detinha, saiu pela Europa roubando, extorquindo e, às vezes, comprando várias pinturas para sua coleção.

O que ele mais desejava era um Vermeer, pois Hitler tinha dois e ele nenhum.

Finalmente, encontrou um holandês, chamado Han van Meegeren, que lhe vendeu um maravilhoso Vermeer, pelo equivalente hoje a 10 milhões de dólares.

Meegeren
E esta sempre foi sua obra preferida...

The Woman Taken in Adultery, também chamada de Christ and the Adulteress
Quando a II Guerra terminou, ao vasculhar sua casa os aliados encontraram várias obras de arte e foram atrás das pessoas que as haviam vendido a ele.


A polícia holandesa localizou e prendeu Van Meegeren em Amsterdã.

Ele foi acusado do crime de traição e sentenciado à morte, afinal, havia alienado uma joia do patrimônio nacional.

Seis semanas após sua sentença, ele confessou. Mas não como traidor.

Ele disse: "Eu não vendi uma obra de arte para aquele nazista. Eu mesmo a pintei. Eu sou um falsário".

Mas ninguém acreditou nele. E ele disse: "Eu posso provar. Tragam-me uma tela e algumas tintas e eu pintarei um Vermeer ainda melhor do que o que vendi para aquele nazista nojento. Eu também preciso de álcool e morfina, pois só assim consigo trabalhar".


Tudo foi providenciado e, diante de juízes, peritos e jornalistas, ele, de fato, pintou um magnífico Vermeer.

Jesus among the Doctors, também chamado de Young Christ in the Temple
As acusações de traição foram retiradas, substituídas por outra mais branda de falsificação, com pena de um ano.

Mas o ilustre vigarista, beberrão e mulherengo nem teve tempo de cumprir a leve pena que lhe foi imposta, pois logo morreu de um fulminante infarto.

Também não pode curtir a sensação de ter se tornado um herói para os holandeses, afinal, havia feito de bobo um dos mais destacados nazistas.

Voltando a Goering, ele foi preso na Áustria, para onde tinha fugido, em 8 de maio de 1945. Em entrevistas ao psiquiatra Leon Goldensohn, refletiu sobre a ascensão do nazismo, repisou a tese da inferioridade de outros povos e declarou ser o maior opositor do Comunismo na Alemanha.

Arrogante, atuou como líder dos acusados no Julgamento de Nuremberg e defendeu-se vigorosamente durante o julgamento, mas as provas, testemunhos e evidências contra seus crimes o condenaram à morte pela forca, por crimes contra a humanidade, crimes contra a paz e crimes de guerra.



Até mesmo para um nazista ele foi um homem terrível. Foi o único nazista de alto-escalão que, de maneira documentada, autorizou o estudo e os preparativos da chamada "Solução Final". Um memorando com sua assinatura foi apresentado no tribunal de Nuremberg, onde ele ordenava a Reinhard Heydrich que lhe fosse submetido o mais rapidamente possível os detalhes práticos para a "desejada solução final da questão judia".


Seus interrogadores americanos o descreveram como um psicopata amigável.

Mas o âmago da sua aberração pôde ser vista na sua reação ao saber que sua pintura favorita era, na verdade, uma falsificação. De acordo com seu biógrafo: "Era como se pela primeira vez tivesse descoberto que há mal no mundo".

E se matou pouco tempo depois, ingerindo cianeto na noite anterior à sua execução.

29 novembro 2012

O MASSACRE DE KATYN

Hitler e Stálin haviam assinado o infame tratado Molotov-Ribbentrop, em 23 de agosto de 1939, supostamente de não-agressão, mas, de fato, de cooperação entre os dois regimes totalitários com vistas a repartir a Europa após a ocupação e destruição das democracias liberais. Em seguida, em setembro, primeiro os nazistas, depois os comunistas invadiram a Polônia e fizeram uma pletora de barbaridades no país, entre os quais se destaca o Massacre da Floresta de Katyn.


Vale lembrar que o dia 23 de agosto foi recentemente reconhecido, na Europa, como Dia da Memória das Vítimas de todos os regimes autoritários e totalitários. Vale também sempre rever a análise do cientista político francês Alain Besançon sobre as razões pelas quais as barbáries cometidas pelo comunismo são tão pouco conhecidas.

Entre essas razões, ressalta-se o fato de que o nazismo perdeu a guerra enquanto a URSS posou inclusive de aliada, no fim das contas, para a derrota de Hitler. E como diz o velho ditado, a história é escrita pelo vencedor. Como Hitler resolveu atacar inclusive seu até então amigo Stálin (em junho de 1941), não restou ao sanguinário comunista outra opção que não defender-se e se unir aos inimigos do seu inimigo. Depois, tratou de reescrever a história ao sabor de seus interesses, pondo a culpa de muitas de suas atrocidades nas costas dos ex-colegas nazistas. E, diga-se, para seu opróbrio, sob o silêncio cúmplice dos aliados.

O caso do Massacre da Floresta de Katyn foi um desses episódios em que os soviéticos culparam os nazistas por um crime que, de fato, eles próprios haviam cometido.

Mas como tem gente que nunca esquece, em 2007 o diretor polonês Andrzej Wajda trouxe à luz a verdade sobre esse evento trágico para seu povo e para sua própria família, já que perdeu o pai no massacre.

Para uma análise crítica do filme, logo abaixo há uma resenha de Isabela Boscov, para a Veja de 8 de abril de 2009.

VEJA O FILME... E HORRORIZE-SE!



SOB A NÉVOA DA GUERRA
Isabela Boscov - Revista Veja, 8 de abril de 2009


Na primeira cena de Katyn (Polônia, 2007), dois grupos de refugiados encontram-se no meio de uma ponte, em algum lugar da Polônia. Parte deles vem do oeste, fugindo dos invasores nazistas, enquanto a outra parte vem do leste, tentando escapar dos invasores soviéticos. Ou seja: chegou-se ao ponto onde não há mais saída – e essa é a imagem ao mesmo tempo literal e metafórica da terrível má sorte que desabou sobre os poloneses em 1939.


Imprensada pela geografia entre os dois regimes totalitários mais cruéis do período, a Polônia virou um palco para as piores tensões da II Guerra. Sua invasão pelos nazistas foi, primeiro, o estopim do conflito. Depois, enquanto o farsesco pacto de não agressão entre Adolf Hitler e Josef Stalin vigorou, o país se viu repartido entre dois exércitos de nacionalidades e métodos diferentes, mas objetivos idênticos – quebrar a espinha do ocupado e ensaiar as práticas expansionistas que logo estenderiam pelo mundo. Finalmente, quando ficou claro que nenhum acordo poderia conter o choque entre as ambições de Hitler e Stalin, o país passou a ser sistematicamente eviscerado pelos dois adversários.


Um episódio central simboliza esse processo: em abril de 1940, os soviéticos fuzilaram cerca de 12.000 oficiais poloneses na floresta de Katyn. Contando-se os fuzilamentos em outros campos de prisioneiros, o total de assassinados chegou a 20.000. Muitos destes eram reservistas e atuavam como engenheiros, técnicos ou cientistas. Sem eles, calculava Stalin, seria muito mais difícil à Polônia reerguer-se (Hitler, por sua vez, já se havia incumbido do extermínio dos intelectuais poloneses). Em 1943, quando as valas comuns foram descobertas, os nazistas aproveitaram-se ao máximo delas para propaganda antissoviética. Em menos de dois anos, porém, a Alemanha foi derrotada, e a Polônia caiu na órbita da União Soviética – a qual reescreveu a história, atribuindo o massacre de Katyn aos nazistas e alardeando-se de ser a verdadeira esperança dos poloneses. A Polônia inteira sabia tratar-se de uma mentira; mas quem o dissesse enfrentaria tortura, exílio ou morte. Eis, então, como uma nação foi refundada sobre uma farsa.

Essa é a história que o grande diretor polonês Andrzej Wajda conta, pela primeira vez na história do cinema de seu país, em KATYN. O pai de Wajda foi uma das vítimas do massacre, e durante anos sua mulher e filho aguardaram que ele voltasse. Quando souberam de sua morte, mal puderam cumprir o luto. Logo, como todos os outros parentes dos fuzilados, tiveram de assumir a falsidade. O massacre e sua subsequente dissimulação feriram a Polônia até a alma: como Wajda mostra em seu filme, numa brilhante recriação não apenas do episódio, mas da dimensão emocional que ele adquiriu, o ocorrido em Katyn pisoteou a identidade dos poloneses, violentou sua história e anulou, por décadas, sua esperança de um futuro livre. Se esse futuro não tivesse afinal se concretizado, KATYN não poderia existir, claro.

Mas é intrigante que só Wajda, que acaba de completar 83 anos, tenha se ocupado de reabrir essa ferida para começar a arejá-la. Intrigante, mas também sintomático: Wajda é um dos remanescentes de uma fraternidade de diretores que, iniciando a carreira entre o fim da II Guerra e a década de 70, imaginou o cinema não apenas como espetáculo – aspecto que a maioria deles nunca menosprezou –, mas também como um novo fórum, de alcance e apelo sem precedentes.

Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Bernardo Bertolucci, Luchino Visconti, Ingmar Bergman, Akira Kurosawa, François Truffaut, Louis Malle, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Stanley Kubrick, para ficar apenas nos nomes mais óbvios, foram alguns dos expoentes desse grupo que Wajda integra desde sua estreia, na década de 50, com a "Trilogia da Guerra", formada por Geração, Kanal e Cinzas e Diamantes.

Nem todos os diretores surgidos nesse período de transformação se dedicaram a temas políticos ou ideológicos, como Wajda quase sempre continuou a fazer. De sexo a relações humanas, de identidade cultural a filosofia, todas as grandes questões encontraram um espaço nesse fórum. A base comum para esses cineastas e os filmes que eles produziram, porém, é clara: o espírito inquisitivo e a aspiração de intervir em seu tempo. Esse é o espírito que abriu para eles um lugar não apenas na história do cinema, mas no cânone cultural contemporâneo. E esse é também o espírito que move Wajda a dissipar a névoa da guerra em KATYN. Se não se trabalhar para encontrar no passado seu sentido verdadeiro, argumenta o filme, tudo o que repousa sobre ele será também em alguma medida uma falsificação.

O mais triste em KATYN é quanto ele é solitário em sua ambição. Outros veteranos como Wajda continuam a fazer um cinema de busca e indagação, a exemplo de Clint Eastwood e Werner Herzog. Mas, nas fileiras de diretores que despontaram a partir da década de 80, os casos de inquietude intelectual são escassos – Pedro Almodóvar, na Espanha; Paul Thomas Anderson, de Sangue Negro, nos Estados Unidos; Cristian Mungiu, de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, na Romênia; Florian Henckel von Donnersmarck, de A Vida dos Outros, na Alemanha. Wajda, que não é nenhum esnobe – uma de suas críticas ao cinema europeu é que ele em geral se recusa a aprender com o americano como conduzir a emoção da plateia –, tem uma teoria sobre o problema. "Certa vez, perguntei a Kurosawa como ele conseguira interpretar Macbeth, de Shakespeare, de maneira tão profunda e acurada em Trono Manchado de Sangue", contou o polonês em uma entrevista recente à revista Sight & Sound. "‘Senhor Wajda, tive uma educação clássica em Tóquio’, ele me respondeu. Bergman e Fellini também tinham esse tipo de formação – assim como muitos de seus espectadores. Hoje, as escolas não ensinam mais esses valores."

Se o diagnóstico de Wajda estiver correto, portanto, não são o cinema ou os cineastas que estão menores. É a própria cultura que está perdendo seu sentido de continuidade e acumulação e, assim, se apequenando. O cinema, afinal, não depende só de quem o faz para provocar impacto: depende igualmente de quem o vê. KATYN prova que essa contração não é necessária. O filme de Wajda tem uma experiência fundamental a transmitir sobre uma calamidade que o presente está longe de erradicar – a dos regimes ditatoriais - e como eles desfiguram não uma liberdade abstrata e sim cada indivíduo, até seu âmago. Mas ele a transmite com arte, e espetáculo, e emoção.

23 novembro 2012

A CRISTOFOBIA EM ASCENSÃO


A favor dos palestinos, toda a solidariedade, contra o cristianismo, toda a licenciosidade.

A principal religião, que representa quase um terço da população mundial, está sob ataque duro e constante. Não, não é o Islã, que é privilegiado pelas leis, principalmente na Europa. É o cristianismo que está sob cerco, em vários países, especialmente no Oriente Médio e sul da Ásia.

A perseguição contra os cristãos, que lá pelos anos 50 a 70 do século passado, estava restrita à esfera intelectual (Sartre e outros), agora passou para outro patamar, da ação prática.

Você sabia que recentemente, na cidade de Santa Mônica, Califórnia, foi proibida a exibição pública de presépios?

Assim como os nossos destrambelhados membros do MP, que exigem a retirada de crucifixos de locais públicos, a Associação dos Ateus Americanos encaminhou a um tribunal estadual de Nova York pedido para que o memorial do ataque às torres gêmeas do World Trade Centre deixe de exibir uma cruz por ser um símbolo religioso, incompatível com o Estado laico. A ação judicial cita como réus o governador de Nova Jersey, Chris Christie, e o prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg.


Eles também colocaram Jesus ao lado de Netuno, Papai Noel e o diabo em outdoor que será inaugurado no dia 11 de dezembro perto do túnel Lincoln, em Nova Jersey. Pelo local, passam 120 mil carros por dia.



Na Suíça, a associação de imigrantes de segunda geração, a "Verein Secondos Plus", exige que a cruz seja abolida da bandeira do país. "A bandeira não representa a Suíça multicultural de hoje", diz Petrusic um dos fomentadores da proposta. "A cruz representa a formação cristã. A origem cristã da Suíça é de fato respeitada, mas também é importante fazer uma separação entre estado e religião. Além do mais, temos uma grande diversidade religiosa no país. A bandeira precisa de novos símbolos que identifique os não-cristãos, como por exemplo a bandeira da antiga República Helvética", explicou um dos dirigentes do "Secondos Plus".

Mas, além desse genocídio cultural, há o genocídio stricto sensu, nos países comunistas e islâmicos.

Os islamistas sonham com um califado árabe desde o Atlântico até o Canal de Suez, ao sul do Saara, e o Islã está conquistando cidades e populações inteiras, gerando o colapso da linha histórica ao longo do paralelo 16, que dividia a terra da Cruz da terra do Alcorão. Hoje, o que resta do "Dar al Harb", terra de guerra, deve tornar-se "Dar al Islam", a terra do Islã. Nos estados do norte que adotaram a lei islâmica, cinco milhões de cristãos estão sob severa repressão.

Hoje, o Islã já é a primeira religião em uma dúzia de países africanos. E isso ocorreu em pouco mais de 40 anos...

NO IRAQUE:
No mês de novembro de 2011, um ataque a Catedral de Nossa Senhora da Salvação, no Iraque, causou a morte de 52 pessoas que assistiam a Missa no local.

Nas semanas e meses que seguiram, sucederam mais ataques contra a minoria cristã, bombas explodiram nos bairros cristãos, dois irmãos foram metralhados; um casal cristão que havia fugido para a região autônoma do Curdistão, devido à perseguição, foi brutalmente assassinado quando voltaram para vender sua residência. No dia 31 de dezembro duas pessoas morreram e 16 ficaram feridas após a explosão de 14 bombas colocadas junto às casas dos Cristãos em Bagdá, e uma jovem católica foi sequestrada por terroristas que invadiram sua casa na capital iraquiana.


NA NIGÉRIA:
Mais de 13.750 cristãos foram mortos pelos muçulmanos no norte da Nigéria desde a introdução das leis da Sharia em 2001.
Em 2011, a polícia nigeriana deteve um carregamento de armas dirigidas ao hisba, o movimento que pretende impor a lei islâmica no norte da Nigéria, e para a facção de Boko Haram. A carga vinha de Teerã, parte do "Plano África", lançado pelos mullahs para expandir a influência iraniana no continente, apoiando os governos e grupos islâmicos.
Neste mesmo ano, várias explosões em igrejas da região central e do norte deixaram pelo menos 30 católicos mortos e 74 feridos durante as comemorações do Natal. As forças de segurança acusaram o grupo Boko Haram, responsável por outros ataques, mas o grupo até então anônimo “Jama’atu Ahlus – Sunnah Lidda’ Awati Wal Jihad” reivindicou a autoria do atentado.
500 cristãos foram mortos desde dezembro de 2011. 300 igrejas foram demolidas.


NO EGITO:
A população cristã no Egito correspondia a 50%, mesmo depois do surgimento do islã e das invasões árabes. Hoje, não passa de 10% o número de cristãos que restou.
Em 2011, quando fiéis deixavam à igreja de al-Qidissen depois da missa de Ano Novo, pouco depois da meia-noite, uma explosão matou 21 pessoas e deixou mais de 40 feridos. O governo rapidamente declarou que o atentado tinha sido causado por "forças estrangeiras”, funcionários do governo chegaram a acusar “agentes sionistas” pelas mortes. Mas os coptas não tinham dúvidas quanto aos responsáveis. Testemunhas disseram que muçulmanos da mesquita que fica logo em frente, em um ato desumano, gritavam “Alah Akbar” (Alá é o maior) e recitavam versos do Corão, enquanto esmagavam com os pés os restos mortais de Cristãos que se espalhou pelas ruas devido à força da explosão.
Desde a "primavera árabe", os fundamentalistas islâmicos mataram centenas de cristãos. Conforme relatou a Associated Press, a derrubada de Mubarak deixou "os islâmicos livres para irem atrás de seu alvo nº 1, ou seja, os cristãos".

EM BELÉM:
Por medo de ataques extremistas a venda de cruz foi proibida.

NO SRI LANKA:
Em uma reportagem publicada no final de 2009 ao Sri Lanka Guardian, Sellin Khan Panni, líder do Hizb ut-Tahir, declarou: “É uma missão divina matar Judeus e Cristãos e estuprar suas mulheres”.

NO PAQUISTÃO:
Asia Bibi
Asia Bibi aguarda a morte na forca pelo suposto crime de blasfêmia. As pessoas que ousaram defendê-la – o governador Salman Taseer e o ministro para as minorias Shah-baz Bhatti – foram brutalmente assassinadas.
A lei de blasfêmia tem sido usada para perseguir a minoria cristã no país, e aqueles que não são mortos pela pena capital, são assassinados por militantes: “Nenhum bom mulçumano tolera um blasfemo”, declarou o chefe da polícia ao ser questionado quanto à presença de policiais na rua no momento em Latif Mash era assassinado após ter sido absorvido da acusação de blasfêmia.

NO AFEGANISTÃO:
Shah Bhatti
De acordo com um relatório da CNSnews, não há uma única Igreja aberta para a comunidade, ou seja, nos locais de maioria muçulmana as igrejas e seus fiéis vivem secretamente. Segundo o relatório, a última igreja livre do Afeganistão foi destruída em março de 2010.

Padre Zacarias Brotos
A Arábia Saudita, por exemplo, está entre os piores perseguidores de cristãos no Oriente Médio, mas o mundo tem agido com indiferença contra o Genocídio Cristão por medo de se tornarem vítimas do ódio fundamentalista. As vozes que ousaram opor-se sofrem as conseqüências: o ministro das Minorias do Paquistão, Shah Bhatti, recebeu um Fatwa de morte do grupo Lashakar-e-Taiba por opor-se à lei de blasfêmia, e foi brutalmente assassinado; o Padre Zacarias Brotos é considerado pela mídia egípcia como inimigo número um, e a Al-Qaeda ofereceu 60 milhões pela sua cabeça.

Nina Shea
“Estamos vendo um ataque muito cruel aos cristãos em vários países, mas. De fato, em muitos lugares no Iraque temos visto uma limpeza de religião”, segundo Nina Shea, diretora do Centro para Liberdade Religiosa do Instituto Hudson. De acordo com Shea, cerca de dois terços dos Cristãos no Iraque já deixaram o país e no Egito muitos estão também indo embora.

Asaph Borba
O pastor brasileiro Asaph Borba, que trabalhou com evangelismo no Oriente Médio por 15 anos, disse em entrevista ao The Christian Post que “com as recentes guerras a situação piorou devido às migrações das minorias. Por causa do crescimento do poder xiita no Iraque, tiveram que ir para a Jordânia e Síria".

A estratégia é retirar todos os símbolos da fé cristã do espaço público, confiná-los no ambiente familiar, e depois criminalizar e perseguir todos que se oponham a isso. Na Indonésia, nem mesmo isso é garantido, pois os cristãos foram proibidos de rezarem dentro de suas próprias casas.


Sempre é bom lembrar que o genocídio cultural é preparativo do efetivo. A História prova, primeiro você quebra a espinha dorsal da comunidade, que são os seus valores, suas crenças, seu espírito de unidade, depois você pode mandar os opositores para a cadeia ou um pelotão de fuzilamento que ninguém mais liga...

Giulio Meotti
Giulio Meotti, autor do livro "A Nova Shoah", é um jornalista italiano que escreve uma coluna semanal para o jornal israelense Arutz Sheva e também para o Wall Street Journal. Neste artigo, de 7/5/2012, sob o título "O Genocídio de Cristãos na África", ele relata o avanço do Islã no continente, critica a ONU e os países ocidentais por silenciarem ante a matança de cristãos.
link para o artigo (em inglês):
http://tinyurl.com/codaavp


Ayaan Hirsi Ali
Ayaan Hirsi Ali atraiu atenção mundial com o livro de memórias "Infiel", que ficou 31 semanas na lista de best-sellers do New York Times. Nele, ela conta sua infância e adolescência na Somália, na Arábia Saudita, na Etiópia e no Quênia sob o rigor do islamismo, até chegar à Holanda, onde se tornou uma das principais críticas do islã e defensora dos direitos das mulheres.
Com o título "A Guerra Global contra cristãos no mundo muçulmano", ela escreve um artigo para a Newsweek alertando que o genocídio contra cristãos, em ascensão, deveria provocar alarme global:
link para o artigo (em inglês):
http://tinyurl.com/86peeqf