31 outubro 2011

TEXTO LIDO NO CASAMENTO DA MINHA FILHA


Certa manhã, quando Krishhnamurti ia começar a falar aos seus discípulos, um passarinho pousou ao seu lado e começou a cantar, com toda a alma.







Depois se calou e foi-se embora, a voar. Diante disso, o sábio indiano simplesmente disse: “Está terminado o sermão de hoje”.






Como há muito tempo está claríssimo que vocês dois foram feitos um para o outro, cheguei a pensar em fazer como Krishhnamurti e encerrar esse discurso antes mesmo de começar.

Desisti da ideia porque conheço bem a minha filhota e sei que ela não me perdoaria por esse sub-misticismo de araque...

Portanto, aqui vai a minha bula infalível para que vocês não atrapalhem o que o destino lhes reservou.

SORRIAM! Sorriam muito, sorriam sempre! Um sorriso é a distância mais curta entre duas pessoas.

E acreditem: o mundo é um espelho - se sorrirem para ele, ele sorrirá para vocês.

O sinal mais evidente da sabedoria é um constante bom humor.

O riso é o som mais civilizado do universo.


Além do mais, a felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido.

Nunca se levem demasiadamente a sério. Isso é cômico.

Sejam sempre gentis. Nunca é cedo para uma gentileza, porque nunca se sabe quando poderá ser tarde demais.


Evitem zangar-se. Para cada minuto que nos zangamos, perdemos 60 segundos de felicidade.

Não acreditem que o ciúme é sinal de amor. Na verdade, ele tem as suas raízes no egoísmo, na vaidade e no amor próprio.





CUIDADO COM AS PALAVRAS: elas têm a leveza do vento e a força da tempestade.

Nunca se esqueçam de que as palavras pertencem metade a quem fala e metade a quem ouve.

Portanto, cuidado com as palavras... Não permitam que a língua ultrapasse o pensamento, pois não existe o esquecimento total: as pegadas impressas na alma são indestrutíveis.


Saibam pesar e sopesar cada instante. O bom senso é também o senso do momento. Há momentos em que silenciar é mentir, assim como há momentos em que falar é estupidez.


E muito, muuuito cuidado com a ironia. Ela pode ser perigosa, pois nem sempre a compreendemos.







Dizem que Deus está nos detalhes, portanto, CUIDADO COM OS DETALHES.


Quando consideramos as conseqüências das pequenas coisas – uma palavra amarga, um olhar de desdém, um esquecimento fortuito – chegamos à conclusão de que não existem detalhes.




Não sofram por causa de plantões e serões. Para se estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro. O amor tem os braços suficientemente longos para que possamos nos abraçar através do espaço.


Mas não se deixem escravizar pelo trabalho. Além da nobre arte de conseguir fazer as coisas, existe a nobre arte de deixar as coisas por fazer. A sabedoria da vida consiste na eliminação de tudo que não é essencial.



Por isso, aprendam a esquecer... A vida seria impossível se retivéssemos tudo na memória: o importante é escolher o que devemos esquecer. E esquecer!

Mas nunca se esqueçam: o amor é como um jardim japonês. Aparenta grande simplicidade, escondendo enorme complexidade. Saibam cultivar cuidadosamente o seu amor, pois as pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem.




Não esperem que nada lhes caia no colo. Acreditem: a vida lhes dará poucos presentes. Se vocês querem uma vida plena, deem-se as mãos e construam-na, juntos!!!

Ocupem-se permanentemente, pois a felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.





A vida, quanto mais vazia, mais pesa.



Quando necessário, repreendam em particular; sempre que possível, elogiem em público.


VIAJEM, viajem muito! Mas não dependam de novas paisagens para se maravilharem, pois o verdadeiro deslumbramento não depende de novas paisagens, mas de novos olhos.


E quando viajarem, preocupem-se menos em filmar e fotografar e mais em fruir os momentos, pois a verdadeira viagem se faz na memória.

Não temam a velhice! A maturidade nos permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura.


Afinal, viver é como subir uma montanha. Mesmo que no fim não se esteja tão forte fisicamente, a paisagem é bem melhor.






Por isso, não se assustem com as primeiras rugas ou com os primeiros cabelos brancos: os vinte anos são mais belos aos quarenta que aos vinte. E assim por diante... Todas as idades dão seus frutos. É preciso apenas saber colhê-los.



Importante MESMO, é que no fim vocês tenham mais rugas na testa que no coração.

BEIJEM, beijem muito, pois a melhor confissão de amor não vale um beijo.


Não se imaginem muito sabidos, pois o que ignoramos é e será sempre muito maior do que tudo quanto sabemos. Quando acharem que estão ficando sábios, desconfiem, pois quando a gente pensa que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.

Sejam sempre exigentes, isso é bom. Mas não esqueçam: os medíocres são exigentes com os outros; os grandes são exigentes consigo mesmos.





Quando surgirem problemas, e eles surgirão, eu garanto, lembrem-se que aquilo que a lagarta sente como fim do mundo, para nós é uma linda borboleta.






E lembrem-se: nada é tão sombrio. Uma sombra escura só existe se uma luz muito poderosa estiver brilhando atrás dela.


Nestas horas, pensem que o mais importante não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos.

E quando errarem, admitam e desculpem-se rápido, pois os erros mais curtos são os melhores.


Assim, ao fim e ao cabo, as recordações não serão feitas de remorsos.


TENHAM FILHOS! Vocês não imaginam como isso vai iluminar as suas vidas. Cada criança, ao nascer, é uma mensagem de que Deus ainda não perdeu a esperança nos homens.


Ousem, não tenham medo de errar. Se fecharem a porta a todos os erros, a verdade ficará do lado de fora.




Prometam que vocês ouvirão um ao outro, durante toda a vida, como se fosse a primeira vez. Não faz mal que isso nunca venha a acontecer, e não acontecerá, eu garanto, mas o mais importante é que essa intenção nunca deixe de existir.






CUIDEM DA SAÚDE! Mas não deem muita bola para o que dizem os especialistas das revistas. Não há nada melhor para a saúde que um amor correspondido.


Não se deixem levar pelas aparências. Só se vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

Procurem sempre o conteúdo interior. Afinal, o que toca o barco para frente não é a vela estufada, mas o vento que não se vê.


E quando lhes disserem que tudo é relativo, que o moderno é melhor do que o velho, não levem ao pé da letra, pois há, sim, valores que são eternos. Cultivem-nos e transmitam-nos aos seus filhos.

Acreditem: dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única.

Também não dêem muito crédito àqueles que bendizem as novidades e maldizem o hábito. Na rotina é que se encontram os maiores prazeres.


Quando suas opiniões não baterem, não dêem muita importância. Mais importante que a comunhão das opiniões é a comunhão dos espíritos.

Há quem diga que o amor consiste em olhar juntos para a mesma direção... Pode até ser, mas cuidado, MUITO CUIDADO, com a individualidade um do outro.

E aqui, peço licença aos meus afilhados Mi & Pat para reproduzir parte do texto que li no casamento deles.


Nada é mais importante num casamento do que o RESPEITO.

Nada parecido com obediência, medo ou submissão. Essa é a deformação do Respeito, é o temor reverencial, em que um dos pólos se subjuga, anula-se frente ao seu oposto.

Nada a ver, também, com a admiração basbaque, aquela que o Padre Antônio Vieira dizia ser “... filha da ignorância, fruto das coisas que se ignora”.

Portanto, o Respeito tem tudo a ver com a consideração, com a estima, com o afeto que passamos a ter por algo ou alguém após exame detido, análise refletida, ponderação decantada pelo tempo, ou seja, por algo ou alguém que se conhece, que não se ignora.


Admiramos com o coração, mas respeitamos com a razão, e ambos, admiração e respeito, devem ser cultivados, cuidados, regados.

Respeitar, então, seria admirar aquilo que conhecemos, valorizando atos e ações, aceitando erros e defeitos, compreendendo falhas e deslizes, pois tudo isso faria parte daquele conjunto que passamos a admirar, considerar, estimar.


Respeitar é também não forçar a alma do outro sem o seu consentimento. Nem para mudá-la a fórceps, nem para mantê-la congelada in vitro. Respeitar é deixar livre o caminho para o crescimento pessoal, sem que o despeito se rebele contra a ascensão do outro.



Respeitar é sentir prazer com o êxito do outro, regozijar-se com a realização do outro.

Respeitar é preservar a intimidade e zelar pela imagem do parceiro.


Respeitar é dar atenção, preservando a individualidade. É dar carinho, preservando a independência. É dar amor, preservando o espaço.


Respeitar é admirar mesmo as imperfeições do outro, é compreender e aceitar até mesmo o que há de precário no outro.



Mas chega de sermão...




DOEM-SE! ENTREGUEM-SE! AMEM-SE! E façam tudo isso intensamente, pois o verdadeiro amor nunca se desgasta.

Quanto mais se dá mais se tem.




Mas doem-se sem esperar nada em troca, de preferência sem que o outro nem mesmo perceba, pois um benefício jogado na cara é sempre uma ofensa.


SONHEM! Sonhem muito!!! Pois se sonhar um pouco é perigoso, a solução não é sonhar menos é sonhar mais.  

E quando acordarem, não chorem porque já terminou, sorriam porque aconteceu.




Sigam esta bula e daqui a 50 anos vocês poderão dizer um ao outro o que eu penso todos os dias sobre a minha parceira: “Te amo por quem tu és, mas ainda mais por quem sou quando estou contigo”.

28 outubro 2011

PARA AQUELES QUE INSISTEM EM DEMONIZAR A VEJA COMO MÍDIA GOLPISTA ANTI-PT, SEGUEM AS CAPAS QUE DERRUBARAM COLLOR, O HOJE AMIGÃO DE LULA, ASSIM COMO SARNEY, RENAN, JADER, JUCÁ ET CATERVA...

02 outubro 2011

Os sentimentais

JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE S. PAULO - ILUSTRADA
27 DE SETEMBRO DE 2011

Grande mistério: por que motivo os livros de Theodore Dalrymple não foram ainda publicados no Brasil? Fato: Dalrymple não é leitura fácil para gostos politicamente corretos. Mas qualquer obra do dr. Dalrymple merece o tempo e o dinheiro. Dalrymple não engana.
Aliás, o seu mais recente livro é uma anatomia dos enganos. Dos sentimentais enganos que começam na esfera privada e rapidamente transbordam, como um líquido viscoso e corrosivo, para a arena pública. Título: "Spoilt Rotten: The Toxic Cult of Sentimentality" (London: Gibson Square, 260 págs.) -algo como "podre e estragado: o culto tóxico do sentimentalismo".
Nem mais. Em finais do século 18, a Europa produziu uma nova sensibilidade "romântica", tendo Rousseau como patrono e o sentimento como deus. Se os homens nascem bons, como explicar a miséria e a infelicidade da espécie?
Não, obviamente, com a natureza imperfeita dela -a velha explicação das teologias tradicionais. Se imperfeição existe, ela se deve a uma sociedade política que aprisiona o "bom selvagem" e impede a expressão pura e purificante do seu "Eu".
Hoje, o "bom selvagem" anda solto. E, com ele, um "Eu" orgulhoso da sua própria ignorância -e orgulhoso porque crente na genuinidade da sua própria genuinidade.
Eis a essência do sentimentalismo: a expressão da emoção sem a presença do julgamento. Sentir basta -porque os sentimentos nunca enganam. Ou, como diria Rousseau, podemos errar, mas, se o erro for sincero, ele não foi propriamente um erro.
Na esfera privada, essa forma de "pensamento" (que é, na verdade, o recuo do pensamento) até pode proporcionar momentos divertidos.
Dalrymple conta um: o dia em que conheceu uma estudante de "Genocide Studies" (sim, isso existe) que dissertou apaixonadamente sobre o genocídio de Ruanda porque vira o filme "Hotel Ruanda". De fato: estudar para que quando basta uma "identificação" (sentimental) com as vítimas de um cataclismo qualquer?
Quando li essa passagem, ri alto. Mas ri com nostalgia. Conheço vários desses "especialistas" que falam sobre as desgraças do mundo porque viram um filme de Hollywood sobre o assunto. ("O aquecimento global existe, juro. Você não viu o filme de Al Gore?")
O sentimentalismo substitui a razão pela emoção. E, se isso diverte na esfera privada, se torna opressivo na arena pública.
Dalrymple analisa dois casos que ilustram o perigo.
O primeiro vem de Portugal, com o desaparecimento de uma criança inglesa no Algarve. Madeleine McCann era o nome, mas a mídia internacional (e sentimental) preferiu rebatizá-la como "Maddie".
Nada sabemos de definitivo sobre o caso: como desapareceu, quem a fez desaparecer, onde estará a criança -viva ou morta.
Mas a opinião pública, confrontada com dois pais que não choravam em público, rapidamente encontrou neles os culpados. A ausência de sentimentalismo não poderia ser explicada por noções clássicas de decoro ou resiliência. A ausência de sentimentalismo era uma revelação de monstruosidade moral.
E, se assim foi em Portugal, assim foi na Inglaterra, com a morte da princesa Diana. Um momento sentimental (e irracional) que levou milhares de ingleses aos portões do Palácio de Buckingham, empunhando cartazes contra a monarquia.
"Mostrem-nos que também sentem!", lia-se num deles, resumo perfeito da demência sentimental: nós queremos que os nossos governantes partilhem as nossas emoções públicas -e em público. Uma espécie de terapia coletiva a que Tony Blair deu o seu contributo, coroando Diana Spencer com o apropriado título de "Princesa do Povo".
O problema dessa terapia é que os líderes deixam de ser líderes e passam a obedecer aos caprichos sentimentais das massas.
Para citar apenas um caso entre mil, são esses caprichos, alimentados também por cantores pop subletrados, que explicam o grande desastre da ajuda humanitária à África. Não que os africanos pobres e famintos não precisem de ajuda.
Mas essa ajuda não pode acabar nas contas bancárias dos governantes africanos que são os primeiros responsáveis pela miséria do seu povo.
O culto do sentimento, escreve Dalrymple, não destrói apenas a capacidade de pensar. Destrói a simples ideia de que é preciso pensar.
Não conheço melhor receita para a barbárie.