28 setembro 2006

GOBIERNO DE MIERDA

Num dos últimos comícios do então presidente Salvador Allende, antes do fatídico 11 de setembro chileno, um trabalhador empunhava uma faixa em defesa do velho socialista: "ÉS UM GOBIERNO DE MIERDA, PERO ÉS MI GOBIERNO".
Mutatis mutandis, na última segunda-feira, durante o programa “Roda Viva”, o ex-ministro Paulo Brossard fez referência a Euclides da Cunha para descrever o cenário atual: “PARECE QUE NÃO FOI O GOVERNO QUE SUBIU, PARECE QUE FOI O POVO QUE DESCEU".
De fato, “nunca na história deste país” assistimos a uma tão completa degenerescência dos costumes republicanos, a um tão sistemático desrespeito aos valores democráticos, a uma tão absoluta descrença nos princípios éticos.
Cego diante da destruição das instituições e insensível aos odores da mierda, o povo parece apequenar-se, encolher-se, mimetizar-se com a matéria escatológica. Indiferente em relação ao futuro e complacente em relação ao presente, o povo amesquinha-se, rebaixa-se, deprecia-se, avilta-se.
Ah, se todos os desenganados tivessem a mesma coragem demonstrada pelo deputado Fernando Gabeira quando, no discurso em que anunciou sua desfiliação do PT, afirmou não acreditar que o sonho acabara, mas, simplesmente, que “suas esperanças negadas, transformadas numa medíocre ruína burocrática” lhe indicavam haver apenas “sonhado o sonho errado”. Lúcido e preparado, ao contrário da súcia de alpinistas sociais que invadiu Brasília, Gabeira reconhece que, muitas vezes, ou quase sempre, a complexidade do movimento histórico costuma zombar das nossas estratégias.
Imersos numa crise política sem fim, que mais parece um dominó mefistofélico (no erudito) ou um balaio de caranguejos (no popular), estamos assistindo a uma verdadeira conspiração da mediocridade, atraindo a tudo e a todos para o núcleo do ciclone anarco-sindicalista.
É chegado o momento de dar nomes aos bois, de chamar pelo nome aquilo que, por meneios e ademanes pusilânimes ou mera afetação politicamente correta, não ousávamos demarcar. Ladrão não é companheiro, roubar não é errar, chantagistas não são trapalhões, violadores de sigilo não são meninos atabalhoados, caixa 2 não é dinheiro não-contabilizado, justiça não é golpismo.

Chega de tibieza!
Chega de concessões!
Chega de contemporizações!
Chega de panos quentes!

Ao contrário do que propunham os petistas golpistas em relação ao presidente Fernando Henrique, a palavra de ordem dos democratas hoje é: FORA LULA! PELO VOTO!
Não é aceitável que cidadãos que prezem seu país, sua família, seus filhos compactuem com atores, cineastas ou músicos que fazem a apologia da frouxidão moral, da elasticidade dos valores, do desfibramento ético.
Não é possível que tudo o que ocorreu nos últimos dois anos seja esquecido ou, pior, varrido para debaixo do tapete. Não é possível continuarmos vivendo no faz-de-conta tão bem descrito pelo ministro Marco Aurélio, do STF.
Não é concebível que nos submetamos a carismas, a metáforas, a cantilenas, ao marketing, muito menos a ameaças chavistas de “sair para o pau” ou de mobilizar os “movimentos sociais”, que, hoje sabemos, não passam de fontes arrecadadoras para projetos de perpetuação no poder.
O escritor Samuel Beckett dizia que “não se passa um dia sem que algo seja acrescido ao nosso saber, desde que suportemos as dores”. E é Gabeira, quem mais uma vez, dá a receita: “Alguns ainda defendem [o PT] porque não conseguiram negociar com sua própria dor. Não podem suportá-la de frente. Mas terão de fazê-lo algum dia, porque, por mais ingênuos que sejam, já perceberam que (...) a grande esperança eleitoral da esquerda latino-americana (...) acabou na delegacia. Só os que se arriscarem a ir até o fundo dessa abjeção, compreendê-la em todos os seus detalhes mórbidos, terá chances de submergir para continuar o processo histórico (...) Por isso proponho agora um curto e eficaz trabalho de luto”.
Ou, então, que aceitem de uma vez o destino da pobre Camboja, dilacerada pelo sanguinário protocomunista Pol Pot, que tinha como lema: "A memória é nossa inimiga. A amnésia, o nosso programa”.

20 setembro 2006

GRAMSCI E O OVO DA SERPENTE


Os catarinenses, felizmente, já decidiram pela continuidade da descentralização, que vem espalhando o desenvolvimento de forma equânime por toda Santa Catarina. Por isso, não vou ocupar-me da nossa refrega estadual, concentrando meu foco no pleito nacional.

Pregado na cruz, Jesus disse: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem!”. Mas o mesmo Jesus saiu no braço contra os vendilhões do templo. Recordo essas duas passagens para ressaltar a nossa responsabilidade diante do quadro de descalabro moral e ético que assola o país, com mensaleiros, sanguessugas, chantagistas, sucedendo-se um após o outro em ritmo alucinante, tornando real a blague “de hora em hora, tudo piora”.
Pode-se perdoar os alienados, que não têm acesso às informações necessárias à formação do seu tirocínio. Pode-se perdoar o miserável, que enxerga na esmola estatal o máximo que lhe cabe neste latifúndio. Pode-se perdoar até mesmo o ingênuo, que não consegue decifrar as armadilhas do populismo ou se desvencilhar das artimanhas do gramscismo, vírus que se instalou de forma lenta, gradual e segura nos nossos corações e mentes. Mas não se pode perdoar a leniência, a displicência, a passividade diante de tudo o que estamos assistindo.
Para quem não sabe do que se trata, é de fundamental importância informar-se sobre esse tal gramscismo, pois grande parte do que ocorre hoje em nosso país é fruto da eclosão desse “ovo da serpente”. Tentarei fazer uma síntese, com a ajuda do historiador Carlos Azambuja.
O italiano Antonio Gramsci, um dos fundadores do Partido Comunista Italiano, foi o primeiro teórico marxista a compreender que a revolução na Europa Ocidental deveria se desviar do rumo seguido pelos bolcheviques russos, propondo uma alternativa ao “Que Fazer?” leninista.


Para Lênin, a revolução comunista deveria começar pela tomada do Estado e, então, transformar a sociedade. Gramsci inverteu esses termos: a revolução deveria começar pela transformação da sociedade, tomando da classe dominante a direção da “sociedade civil” (rede de instituições educativas, religiosas e culturais que disseminam modos de pensar) e, só então, atacar o poder do Estado. Sem a prévia “revolução do espírito”, qualquer vitória comunista seria efêmera.
Segundo Gramsci, o objetivo era conquistar, um após outro, todos os instrumentos de difusão ideológica (escolas, universidades, editoras, meios de comunicação social, sindicatos), já que os principais confrontos ocorrem na esfera cultural e não nas fábricas, nas ruas ou nos quartéis.
Para Gramsci, a batalha deveria ser travada no plano das idéias religiosas, filosóficas, científicas, artísticas etc. Por essa razão, a caminhada para o socialismo não passaria pelos proletários de Marx e Lênin ou pelos camponeses de Mao, mas, sim, pelos intelectuais, pela classe média, pelos estudantes, pela cultura, pela educação e pelo efeito multiplicador dos meios de comunicação social, buscando mudar a mentalidade, desvinculando-a do sistema de valores tradicionais, para implantar os valores ateus e materialistas.
É de suma importância para o triunfo da revolução mundial uma reforma intelectual e moral para lograr uma mudança de mentalidade nas sociedades ocidentais que foram constituídas por convicções, critérios, normas, crenças, pautas baseados na concepção cristã da vida.
As novas concepções se difundem utilizando sofismas, dando novas interpretações a fatos históricos, chegando a parafrasear o Evangelho em alguns casos, distorcendo “ensinamentos” de determinadas passagens bíblicas, tal como a expulsão dos mercadores do Templo, utilizando-os como argumentos para justificar a violência e moldar a imagem do “Cristo guerrilheiro”.
Ao proclamar o diálogo e aceitar o debate, o gramscismo seduz e atrai a contribuição de todos aqueles que, por simpatizar com a ideologia marxista - por esnobismo, conveniência ou negligência -, se somam, voluntária ou involuntariamente, à sua estratégia.
Graças à inoculação desse vírus gramsciano na sociedade brasileira, hoje é comum a louvação do invasor de terras e a demonização de quem ousa defendê-las com armas na mão. È corriqueira a defesa dos direitos de marginais e a condenação das ações policiais. É trivial a confusão entre interesses de Estado e interesses partidários, tudo perdoado porque os fins justificariam os meios.
No próximo domingo, os brasileiros darão um passo crucial para a definição do país que queremos para os próximos 50 anos. Isso porque a reeleição de Lula significará, sem qualquer sombra de dúvida, um salto rumo ao abismo, a um chavismo que gerará um grave quadro de instabilidade das instituições.

14 setembro 2006


OS MERDOSOS *

Para tentar entender um pouco do que anda ocorrendo com a noção de ética “nestepaiz” (como diria o noço guia), fui buscar luzes num livro editado em 1999 - “A Esquerda no Umbral do Século XXI – Tornando Possível o Impossível” - da cientista política chilena Marta Harnecker, atualmente debruçada sobre a revolução bolivariana de Hugo Chávez.
Bem no finalzinho da sua obra, tentando reduzir a sensação de inaplicabilidade de todo o palavrório precedente, ela saca da sua cartucheira moral a seguinte pérola: “Por último, não existe apenas o terreno do legal e de seu oposto, o ilegal; há todo um campo que poderíamos chamar de a-legal, quer dizer, aquilo que não entra nem no terreno do legal nem do ilegal” (...) “A esquerda latino-americana pode ir acumulando forças e ir gerando a transformação cultural do povo de modo que este assuma cada vez mais seu destino em suas mãos, criando dessa maneira uma das bases fundamentais da nova sociedade que pretendemos construir: uma sociedade caracterizada pelo povo assumindo o papel principal em todos os níveis”.
Com a ajuda preciosa desse texto, fica mais fácil entendermos a lenta, gradual e constante putrefação da ética em nosso país. Burgueses ignorantes, desconhecíamos a existência dessa nova categoria inventada pela esquerda latino-americana: o vasto campo do a-legal. Não é uma maravilha? Poder roubar, prevaricar, surrupiar, desviar, mensalar, vampirar, sanguessugar e, ainda assim, flutuar num vácuo distante tanto do legal quanto do ilegal?
Muito legal!!!
E quem é que, antes de todos nós, percebeu isso? Claro, a nossa vanguarda intelectual.
Wagner Tiso, músico: "Não estou preocupado com a ética do PT. Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país. Estou me lixando para a ética”.
Paulo Betti, ator: “Não se faz política sem por a mão na merda”.
Luiz Carlos Barreto, cineasta: "A política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência. Se o fim é nobre, os fins justificam os meios".
José de Abreu, ator: "Eu acho difícil fazer política sem colocar a mão na merda, mas acho que tem que tentar ter mãos beatas". Tudo isso dito na casa do ministro Gilberto Gil, depois de declararem apoio ao presidente Lula.
Passados alguns dias, depois de uma enxurrada de críticas à pouca vergonha desse escatológico jantar, os aparatchiks da academia vieram em socorro de seus companheiros. Luis Fernando Veríssimo chegou muito perto da lógica torta da Marta chilena ao dizer que “os eleitores declarados do Lula estão sabendo distinguir o moralismo de ocasião do moralismo legítimo”.
Mas a mais desabrida e desavergonhada foi a feminista Rose Marie Muraro. Para ela, Lula é, sim, um ladrão, mas merece nosso perdão porque, segundo ela, estaria dividindo o butim com os pobres, (e, por conseqüência, seriam todos seus cúmplices na divisão da rapina, digo eu). Diz, também, que o coitadinho "se viu obrigado a jogar o jogo da classe dominante para continuar no poder", sem se dar conta de que a recíproca é verdadeira, ou seja, será que os outros ladrões só o eram por terem sido obrigados a isso também? Quércia, Maluf, Collor e Newtão (todos aliados!) agradecem penhorados a defesa tardia.
Muraro diz ainda que a Zelite "fabricaram a noção de moralidade para que os dominados continuassem pobres, sem competir com eles (ricos)", sem se dar conta de que elas, as antigas vestais petistas, hoje assumidíssimas Messalinas, foram sempre os maiores arautos dessa tal moralidade inventada pela Zelite.
É de uma indigência de dar dó o pensamento dessa “vanguarda” intelectual, hoje disputando o papel de quem mete mais a mão na merda...
Intelectual por intelectual, fecho com o Jabor: “Esses bravos criadores de arte estão trazendo à luz do dia, num ato falho espetacular, a verdadeira ideologia que orienta o PT. Prestaram um serviço à verdade”.

*MERDOSO = que não tem capacidade; imbecil, parvo.

06 setembro 2006

CUIDA DO MAIS IMPORTANTE


Em tempos de campanha eleitoral, em que o ex-ministro da Pesca diz saber resolver todos os problemas de Santa Catarina mas é surpreendido por pescadores fechando portos (Itajaí e Rio Grande do Sul) em protesto contra o descaso do Governo Federal em relação às suas demandas.

Em tempos em que o ex-governador Amin reclama de traição, abandonado por partidos e lideranças que já o acompanharam em outras jornadas, mas não se pergunta o que terá ele feito para ser assim renegado por ex-companheiros.
Nesses tempos de análise e reflexão por parte do eleitorado, reproduzo uma historinha que dá uma boa pista daquilo que, muitas vezes, determina o sucesso de uns e o insucesso de outros.

Certa vez, um jovem recebeu do rei a tarefa de levar uma mensagem e alguns diamantes a outro rei de uma terra distante. Para isso, recebeu o melhor cavalo do reino para levá-lo na jornada.
- Cuida do mais importante e cumprirás a missão!, disse o soberano ao despedir-se.
O jovem escondeu a mensagem na bainha da calça, colocou as pedras numa bolsa de couro amarrada à cintura, sob as vestes, e, logo cedo, sumiu no horizonte, sem cogitar a hipótese de falhar. Queria que todo o reino soubesse que era um nobre e valente rapaz, pronto para desposar a princesa.
Para cumprir rapidamente a tarefa, abandonava a estrada, pegava atalhos que sacrificavam sua montaria, exigindo-a ao máximo. Quando parava em uma estalagem, deixava o cavalo ao relento, não lhe aliviava da sela nem da carga e não se preocupava em dar-lhe de beber ou providenciar alguma ração.
- Assim, meu jovem, acabará perdendo o animal – disse-lhe alguém.
- Não me importo - respondeu ele. Tenho dinheiro. Se este morrer, compro outro. Nenhuma falta fará.
Com o passar dos dias e sob tamanho esforço, o pobre animal, não suportando os maus tratos, caiu morto na estrada. O jovem o amaldiçoou e seguiu o caminho a pé.
Passadas algumas horas, se deu conta da falta que lhe fazia o animal, pois nessa parte do país havia poucas fazendas, muito distantes umas das outras. Exausto e sedento, já havia deixado pelo caminho toda a tralha, exceto as pedras, fiel à recomendação do rei: "Cuida do mais importante!".
Seu passo tornava-se curto e lento. As paradas eram freqüentes e longas. Como sabia que poderia cair a qualquer momento e temendo ser assaltado, escondeu as pedras no salto de sua bota. Mais tarde, caiu exausto no pó da estrada, onde ficou desacordado. Para sua sorte, uma caravana de mercadores que seguia viagem para o seu reino, encontrou-o e cuidou dele.
Ao recobrar os sentidos, encontrou-se de volta em sua cidade. Imediatamente foi encontrar o rei para contar o que havia acontecido. Com a maior desfaçatez, colocou toda a culpa do insucesso nas costas do cavalo "fraco e doente" que recebera.
- "Porém, majestade, conforme sua recomendação de cuidar do mais importante, aqui estão as pedras que me confiaste. Não perdi uma sequer!".
O rei as recebeu com tristeza e se despediu friamente. Abatido, o jovem deixou o palácio arrasado. Em casa, ao tirar a roupa, encontrou na bainha da calça a mensagem do rei, que dizia: "Ao meu irmão, rei da terra do Norte! O jovem que te envio é candidato a casar-se com minha filha. Esta jornada é uma prova. Dei a ele alguns diamantes e o melhor cavalo do reino. Recomendei que cuidasse do mais Importante. Faze-me, portanto, um grande favor. Verifica o estado do cavalo. Se estiver forte e viçoso, saberei que o jovem aprecia a fidelidade e a força de quem o auxilia na jornada. Se, porém, perder o animal e apenas guardar as pedras, não será um bom marido, nem rei, pois terá olhos apenas para o tesouro do reino e não dará importância à rainha e nem àqueles que o servem".
Há, nessa historinha singela, um sem número de lições a serem decifradas e compreendidas por ganhadores e perdedores das próximas eleições.