CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE
A obra prima do espanhol Ortega Y Gasset, “A Rebelião das Massas”, começou a ser publicada em 1926 no jornal madrilenho El Sol.

Num momento como o que vivemos no Brasil, em que se percebe claramente uma inclinação para o autoritarismo, haja vista as manifestações populares e oficiais de enfrentamento contra a imprensa livre, é oportuníssima a releitura desse clássico, do qual extraio um sumo saboroso.


HOMEM-MASSA: “O homem seleto não é o petulante que se supõe superior aos demais, mas o que exige mais de si que os demais. A nobreza define-se pela exigência, pelas obrigações, não pelos direitos. (...) O vulgar, ao contrário, não suspeita de si mesmo. Não há modo de desalojar o tolo de sua tolice, levá-lo um pouco além de sua cegueira e obrigá-lo a que contraste sua visão grosseira habitual com outros modos de ver mais sutis. O tolo é vitalício e impermeável. Por isso dizia Anatole France que o néscio é muito mais funesto que o malvado. Porque o malvado descansa algumas vezes; o néscio, jamais”.

“Característico em nossa época não é que o vulgar creia ser destacado e não vulgar, mas que proclame e imponha o direito da vulgaridade, ou a vulgaridade como um direito”.
ESTATIFICAÇÃO: “Imagine-se que sobrevém na vida pública de
um país qualquer dificuldade, conflito ou problema: o homem-massa tenderá a exigir que imediatamente o Estado o assuma, que se encarregue diretamente de resolvê-lo com seus gigantescos e incontrastáveis meios. Este é o maior perigo que hoje ameaça a civilização: a estatificação da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo Estado. (...) Quando a massa sente uma desventura, ou simplesmente algum forte apetite, é uma grande tentação para ela essa permanente e segura possibilidade de conseguir tudo – sem esforço, luta, dúvida nem risco – apenas ao premir a mola e fazer funcionar a portentosa máquina”.

CIVILIZAÇÃO: “Civilizado é o mundo, seu habitante, porém, não o é: nem sequer vê nele a civilização, mas usa dela como se fosse natureza. Deseja o automóvel e goza dele, mas crê que é fruta espontânea de uma árvore edênica. No fundo de sua alma desconhece o caráter artificial, quase inverossímil, da civilização. A civilização não se sustenta a si mesma. É artifício e requer um artista ou artesão. Como não vêem nas vantagens da civilização um invento e construção prodigiosos, que só com grandes esforços e cautelas se pode sustentar, crêem que seu papel se reduz a exigi-las peremptoriamente, como se fossem direitos nativos”.

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