26 setembro 2013

A HISTÓRIA DO MASP


Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello

O paraibano Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, comandava um verdadeiro império midiático, composto por 34 jornais, 36 emissoras de rádio, uma agência de notícias, uma editora (responsável pela publicação da revista O Cruzeiro, a mais lida do país entre 1930 e 1960) e se preparava para ser o pioneiro da televisão na América Latina - e futuro proprietário de 18 estações.

Ele utilizava-se da influência de seu conglomerado para pressionar a elite do país a auxiliá-lo em suas iniciativas, quer fossem políticas, econômicas ou culturais. Em meados dos anos quarenta, criou a "campanha da aviação", que consistia em enérgicos pedidos de contribuições para a aquisição de aeronaves de treinamento a serem doados ao aeroclubes do país. Como fruto da iniciativa, cerca de mil aviões foram comprados e doados às escolas para formação de pilotos. Terminada a campanha, Chateaubriand iniciaria uma nova e ousada empreitada: a aquisição de obras de arte para formar um museu de nível internacional no Brasil.

Chateaubriand pretendia sediar o futuro museu no Rio de Janeiro, mas optou por São Paulo por acreditar que nessa cidade teria mais sucesso em arrecadar os fundos necessários para formar a coleção. O mercado de arte internacional passava por um momento propício para quem dispunha de fundos para adquirir obras de relevo e o Brasil passava por um momento de grande prosperidade. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a Europa em reconstrução, muitas coleções eram postas à venda. O aumento exponencial da oferta derrubou os preços das obras de arte em níveis inéditos. Chateaubriand, entretanto, embora fosse um apreciador de obras de arte, era um leigo no assunto. Para movimentar-se nesse mercado, selecionando peças de alto valor e com garantias de autenticidade, precisava do auxílio de um técnico especializado e experiente. Assim, convidou Pietro Maria Bardi para ajudá-lo na empreitada.

Pietro Maria e
Lina Bo Bardi
Pietro Maria Bardi, galerista, colecionador, jornalista e crítico de arte italiano, havia viajado ao Rio de Janeiro na companhia de sua esposa, a arquiteta Lina Bo, para apresentar a Exposição de Pintura Italiana Antiga no Ministério da Educação e Saúde, organizada pelo Studio d'Arte Palma, dirigido por Bardi em Roma. Durante um almoço em Copacabana, no verão de 1946, Chateaubriand lhe convidou para auxiliar a criar e a dirigir um "Museu de Arte Antiga e Moderna" no país. Bardi objetou que não deveria haver distinção entre as artes, propondo denominar a instituição apenas como "Museu de Arte", e aceitou o convite. Planejando ficar à frente do projeto por apenas um ano, dedicar-se-ia a ele pelo resto de sua vida, tendo dirigido a instituição por quase meio século. Mudou-se definitivamente com Lina para o Brasil.

Edifício Guilherme Guinle

Nos três primeiros anos de atividade, o museu funcionaria em uma sala de mil metros quadrados, no segundo andar do Edifício Guilherme Guinle, na rua Sete de Abril, centro de São Paulo, projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon para ser a sede dos Diários Associados.

Lina Bo Bardi projetou os espaços no primeiro andar, eliminando paredes e elementos decorativos constantes do projeto original, a fim de que o espaço obedecesse a um ambiente estritamente funcional. Além da pinacoteca, contava com uma sala de exposição didática sobre a história da arte, duas salas para exposições temporárias e um auditório com 100 lugares. Essa divisão refletia o interesse dos fundadores em conceber a nova instituição como centro difusor de conhecimento e cultura, opondo-se à ideia de museu como simples depósito de obras de arte.

O museu foi inaugurado em 2 de outubro de 1947. No dia seguinte, os primeiros visitantes chegaram para ver a incipiente coleção, ainda com poucas peças, destacando-se o "Busto de Atleta", de Pablo Picasso, e o "Auto-retrato com Barba Nascente", de Rembrandt.

Busto de Atleta
Pablo Picasso
Auto-retrato com Barba Nascente
Rembrandt
Nos anos seguintes, o espaço passaria a oferecer cursos sobre história da arte, mostras de artistas nacionais e estrangeiros de todas as correntes, manifestações de teatro, música e cinema, transformando o museu em um ponto de encontro de artistas, estudantes e intelectuais em geral. Assim, O MASP inaugurou o conceito de espaço museológico multidisciplinar, tornando-se uma das primeiras instituições do mundo a atuar com perfil de centro cultural, décadas antes da fundação do Centro Georges Pompidou, de Paris.

O Escolar
Van Gogh
Paralelamente às atividades didáticas, o acervo continuava a crescer. Cada nova aquisição era festejada com uma suntuosa recepção, com a mais ampla cobertura possível dos Diários, quer no museu, quer na casa dos doadores, ou até mesmo em campo aberto – como se registrou à chegada da obra "O Escolar", de Van Gogh, recepcionada por um grande desfile de estudantes nas ruas de Salvador.

No final da década de 1950, o crescente volume do acervo e a ampliação das atividades didáticas do museu demandavam espaços mais amplos e adequados a atividades museológicas regulares. Na tentativa de solucionar o problema, Bardi fez contatos com a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Ficou acertado que o museu teria um espaço no edifício que a fundação estava erguendo no bairro de Higienópolis, onde seria exposto seu acervo, ao qual se juntariam as obras do fundador da FAAP (hoje reunidas no Museu de Arte Brasileira). As obras do MASP chegaram a ser expostas nas salas da fundação, mas Bardi mostrou-se preocupado com a qualidade de algumas peças a serem incorporadas à coleção, preferindo romper o acordo e recomeçar a busca por uma nova sede.
Belvedere Trianon

Havia, então, na avenida Paulista, um terreno no local antes ocupado pelo Belvedere Trianon, tradicional ponto de encontro da elite paulistana, projetado por Ramos de Azevedo e demolido em 1951 para dar lugar a um pavilhão, onde fora realizada a primeira Bienal Internacional de São Paulo.

O quadro de Jules Martin mostra inauguração
da Avenida Paulista em 8/12/1891

O terreno havia sido doado à prefeitura por Joaquim Eugênio de Lima, idealizador e construtor da avenida Paulista, com a condição de que a vista para o centro da cidade, bem como a da serra da Cantareira, fossem preservadas, através do vale da avenida 9 de Julho.

Vista do centro da cidade a partir do Belvedere Trianon
Mesmo ciente da situação do terreno e das condições impostas pelo doador, Lina Bo Bardi insistia que considerava o local ideal para a construção da nova sede. 


Para preservar a vista exigida pelo doador do terreno, era necessário ou uma edificação subterrânea ou uma suspensa. 



A arquiteta ítalo-brasileira optou por ambas as alternativas, concebendo um bloco subterrâneo e um elevado, suspenso a oito metros do piso.



E idealizou um edifício sustentado por quatro pilares, permitindo, assim, aos que passam pela avenida, descortinar o centro da cidade. Em construção civil é único no mundo pela sua peculiaridade: o corpo principal pousado sobre quatro pilares laterais com um vão livre de 74 metros, à época considerado o maior do mundo.


Lina Bo Bardi nas obras do Masp
A ousada inovação foi viabilizada pelo trabalho do engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, que aplicou na obra a sua própria patente de concreto protendido.


Lina Bo Bardi no vão livre do Masp

Construído entre 1956 e 1968, a nova sede do MASP foi inaugurada em 7 de novembro de 1968 com a presença da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra.

Rainha Elizabeth
 



MASP HOJE









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