26 fevereiro 2014

Por Reinaldo Azevedo
25/02/2014
Nos 20 anos do Plano Real, quero aqui lembrar frases célebres da companheirada. Antes, no entanto, algumas considerações.
Como vocês devem ter lido em toda parte, ocorreu nesta terça, no Senado, uma sessão solene em homenagem aos 20 anos do Real. A estrela do dia foi o presidente Fernando Henrique Cardoso. As conquistas oriundas do plano devem ser um dos pilares da campanha do tucano Aécio Neves à Presidência — foi ele, aliás, quem dirigiu as palavras mais duras contra o governo Dilma.
Falando, como é de seu feitio, uma linguagem mais institucional, FHC reconheceu os avanços, inclusive do governo Lula — deferência que seu sucessor jamais lhe fez —, mas afirmou que o país precisa de mudanças, de ventos novos, porque há “fadiga de material”, o que disse ter percebido também em seu governo.
Referindo-se à eventual reeleição de Dilma, afirmou:
“A partir de certo momento, tem fadiga de material. Eu sofri essa fadiga quando estava no governo. Agora, tem fadiga de material: ‘De novo o mesmo, meu Deus?’. O Brasil é um país novo, precisa de sentir ventos novos”.
Para Aécio, “os 12 anos de governo do PT levaram o Brasil a estar hoje mergulhado em ambiente de desesperança e descrença do futuro”. “De tijolo sólido, viramos hoje frágil economia. (…) Quem suceder ao atual governo governará em tempos difíceis até o país recuperar o entusiasmo num futuro melhor.”
Guerra de propaganda
Os vinte anos do Plano Real estão a merecer, certamente, um trabalho de fôlego. É impressionante que os tucanos tenham perdido a guerra de propaganda para o PT nos últimos, vá lá, 14 anos — já que o governo FHC ficou sob intenso bombardeio nos dois anos finais.
Lembre-se de que, um ano antes do Real, o então ministro da Fazenda FHC adotou um conjunto de 58 medidas para criar as precondições da estabilização da economia — de pronto combatidas por Lula (vejam abaixo frase de janeiro de 1994).
Como todo mundo sabe, o partido não ficou só na retórica: votou contra a MP do Real no dia 29 de junho de 1995. Foi além. Recorreu ao Supremo com uma ADI (Ação Direita de Inconstitucionalidade) contra o plano. E voltou ao tribunal para tentar derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Abaixo, um pouco do que disseram alguns patriotas.
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Lula
“Esse plano de estabilização não tem nenhuma novidade em relação aos anteriores. Suas medidas refletem as orientações do FMI (…) O fato é que os trabalhadores terão perdas salariais de no mínimo 30%. Ainda não há clima, hoje, para uma greve geral, mas, quando os trabalhadores perceberem que estão perdendo com o plano, aí sim haverá condições” (O Estado de S. Paulo, 15.1.1994).
“O Plano Real tem cheiro de estelionato eleitoral” (O Estado de S. Paulo, 6.7.1994).
Guido Mantega
“Existem alternativas mais eficientes de combate à inflação (…) É fácil perceber por que essa estratégia neoliberal de controle da inflação, além de ser burra e ineficiente, é socialmente perversa” (Folha de S. Paulo, 16. 8.1994).
Marco Aurélio Garcia
“O Plano Real é como um “relógio Rolex, destes que se compra no Paraguai e têm corda para um dia só (…) a corda poderá durar até o dia 3 de outubro, data do primeiro turno das eleições, ou talvez, se houver segundo turno, até novembro” (O Estado de S. Paulo, 7.7.1994).
Gilberto Carvalho
“Não é possível que os brasileiros se deixem enganar por esse golpe viciado que as elites aplicam, na forma de um novo plano econômico” (“O Milagre Real”, de Neuto Fausto de Conto).
Aloizio Mercadante
“O Plano Real não vai superar a crise do país (…) O PT não aderiu ao plano por profundas discordâncias com a concepção neoliberal que o inspira” (“O Milagre Real”, de Neuto Fausto de Conto)
Vicentinho, atual líder do PT na Câmara dos Deputados
“O Plano Real só traz mais arrocho salarial e desemprego” (“O Milagre Real”).
Maria da Conceição Tavares
“O plano real foi feito para os que têm a riqueza do País, especialmente o sistema financeiro” (Jornal da Tarde, 2.3.1994).
Paul Singer
“Haverá inflação em reais, mesmo que o equilíbrio fiscal esteja assegurado, simplesmente porque as disputas distributivas entre setores empresariais, basicamente sobre juros embutidos em preços pagos a prazo, transmitirão pressões inflacionárias da moeda velha à nova” (Jornal do Brasil,  11.3.1994).
“O Plano Real é um arrocho salarial imenso, uma perda sensível do poder aquisitivo de quem vive do próprio trabalho” (Folha de S.Paulo, 24.7.1994).
Gilberto Dimenstein
“O Plano Real não passa de um remendo” (Folha de S.Paulo, 31. 7.1994 ).

Anotação para a história: o livro “O Milagre Real” acima citado foi escrito integralmente por mim.

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