TUDO ÀS ESCURAS
André Petry
Veja - 1/11/2006
(resume praticamente tudo o que penso a respeito da campanha de Alckmin)
No dia 26 de setembro de 1960, aconteceu o célebre debate televisivo entre John Kennedy e Richard Nixon, que inaugurou a idéia de colocar candidatos em confronto em transmissões ao vivo. No dia seguinte, Clark Clifford, conselheiro de Kennedy, mandou-lhe uma carta curta e objetiva. Elogiava o desempenho de Kennedy e alinhava três sugestões para os debates seguintes. A primeira dizia assim: "Nixon está dizendo que vocês dois têm os mesmos objetivos, apenas diferem sobre os meios de alcançá-los, mas isso é falso". E encerrava, apelando: "Você não pode permitir que ele crie a ilusão de que vocês trabalham para o mesmo fim". Kennedy não permitiu. E ganhou.
Na campanha de Geraldo Alckmin, faltou alguém para lhe dar esse conselho singelo. As pesquisas indicam que, neste domingo, Alckmin perderá a eleição. Mas o problema não é perder uma eleição. Isso é próprio da democracia. Alguém sempre perde. O problema é perder a eleição sem cumprir seu papel de apresentar-se como uma alternativa concreta. Alckmin não foi capaz de usar sua campanha para mostrar o essencial: que o projeto tucano é diferente do projeto petista.
Não mostrou que seu partido defende a radicalização da experiência social-democrata no Brasil, mobilizando todo o seu empuxo modernizador e seu sentido libertário. Não defendeu sua crença no capitalismo avançado. Não conseguiu sequer defender a privatização. Em vez disso, resolveu fazer o campeonato da intensidade: era mais emprego, mais escola, mais crescimento. No auge dessa disputa, Alckmin disse que era mais esquerda do que Lula e mais pobre do que Lula (a contenda patrimonial, a se julgar pelas declarações de bens apresentadas pelos candidatos, dá 691.000 reais contra 839.000 reais, com vantagem para Lula, o menos pobre).
É possível que a exposição das idéias tucanas não levasse à vitória eleitoral, mas o inverso também não levou e, para piorar, ainda deixou tudo às escuras. Se mostrasse com clareza que o projeto tucano é diferente do projeto petista, a oposição poderia até não mudar o resultado das urnas, mas colheria dois dividendos: teria ajudado no seu compromisso pedagógico de esclarecer as massas, que é papel da oposição em qualquer democracia, e não teria se rendido à demagogia paralisante de que o país pode crescer sem cortar nada, pode crescer sem fazer sacrifícios, pode crescer sem suor.










De negativo, em relação às privatizações, não existe nada, rigorosamente nada, de concreto, apenas a espuma venenosa da baba gramsciana que os petistas tão bem souberam infiltrar nas mentes porosas dos desavisados, crentes ou ingênuos. Já em relação ao banditismo da quadrilha que assaltou o poder junto com Lula, as provas abundam, seja na imprensa, nas CPIs, no Ministério Público ou na Polícia. O que nos leva à seguinte questão: o que é melhor, a “privataria” ou a pirataria? Sim, pois é disso que se trata. Um entrou nas estatais pela porta da frente e, num processo público, aberto e transparente, fez o que seus inimigos tacharam de “privataria”. Outro permitiu que se invadisse as estatais arrombando a porta dos fundos e dilapidando o seu patrimônio, especialmente o ético, moral, institucional. O resto é lavagem cerebral...
.jpg)












