26 outubro 2006

O DIA DA  ELEIÇÃO


(With a litlle help from Vinícius)
Neste momento há uma eleição em andamento.
E eu sou o jurado.
Há um misto de alegria e desalento.
Cheio de significado.


Os bondes, lá, não andam em cima dos trilhos, mas a vida, cá, continua fluindo em ondas, como o mar.
Aqui, felizmente, já não há uma dura realidade da qual fugir, mas, lá, sim, pois há, ainda, quem pratique amor sem vontade.
Ao mesmo tempo em que há uma profunda discordância com os desacertos planaltinos, aqui brota um renovar-se de esperanças com os acertos sem desatino, o ajuste fino, a descentralização como destino, genuíno, cristalino.
Há uma sensação angustiante.
Medo de aloprado.
Um espetáculo de gala, contagiante.


Mas que requer muito cuidado.
Afinal, lá ainda há vampiros pelas ruas, e isso não é fado, é enfado. Até há aumento no consumo, mas a lua já não é cheia, minguou, nem permanece impassível, ao contrário, é cada dia mais combustível.
Lá, uma tensão inusitada.
Porque há um culpado.
Enquanto segue um piquenique titânico.
Adulando o predestinado.
O day after por lá não há de ser festivo, mas apreensivo, pois urna não anistia ninguém e a vontade do povo não se sobrepõe à Constituição, que, em verdade, é o povo por extenso. Cá, em contraste, logo todos os bares estarão repletos, os namorados de mãos entrelaçadas e os maridos funcionando regularmente.

Há um frenesi de dar banana.
De quem foi julgado e renegado.
E uma comemoração fantástica.
De quem foi beneficiado pelo resultado.

Aqui, quem dá bananas é o mito desmascarado, acabado, calado, finado, passado, sublimado.
Lá, quem comemora é o mito do proletariado, ainda mascarado, mas já cercado, à espera do delegado para cobrar o seu pecado.

Aqui, quem comemora é quem foi louvado, amado e alçado, porque soube entender o recado, sempre foi um bom soldado, um bom aliado, fez do povoado um eldorado e soube agir como magistrado, beneficiando por inteiro o Estado.
Lá, paradoxalmente, quem fica com as bananas é quem merecia a faixa.



Neste momento ainda há criancinhas que não comem.
Ainda há divórcios e violamentos, um rico que se mata e um garden-party na cadeia.
Ainda há incestos e acréscimo de sífilis, mulher que apanha e cala e um sedutor que tomba morto, um noivo louco de ciúmes e adolescências seminuas.
Mas, dando os trâmites por findos, reafirmo meu otimismo por confiar nos homens e mulheres lúcidos e conscientes, libertos da camisa de força gramsciana.
Homens e mulheres cada vez mais necessários para exigir o desmascaramento das trapaças, crimes e traições.
Reafirmo meu otimismo, pois há a perspectiva de muitos domingos, radiosos, depois da turbulência que se aproxima, mas que passará.

"Existem juizes em Berlim", disse o artesão ao enfrentar o rei da Prússia, e vencer. Resta-nos esperar que também existam juízes dignos deste nome no Brasil, que não se deixem intimidar com os uivos da matilha.
Reafirmo meu otimismo porque Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Mas, por via das dúvidas, livrai-nos, meu Deus, de todo mal.

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