23 agosto 2006

VONTADES POLÍTICAS


Seria engraçado, se trágico não fosse, assistir alguns candidatos dizerem, com a maior cara de pau, que, se eleitos, resolveriam tudo com um passe de mágica, pois, afinal, basta ter “vontade política”.
Ouvir esse tipo de bobagem, que os petistas inventaram e outros menos imaginativos copiam, faz-me lembrar como é importante conhecer a História para não ser enganado por ilusionistas e manipuladores.
No dia 27 de agosto de 1928, portanto, há exatos 78 anos, representantes de oito países assinaram em Paris um tratado internacional que condenava a guerra como forma de resolver os problemas entre os Estados. Muito bonito! Eis aí um bom exemplo da tal “vontade política”, e da sua absoluta indigência conceitual e alienação factual. Seus seguidores são adeptos daquela máxima hoje expropriada pelos petistas: “se os fatos não combinam com os nossos planos, revoguem-se os fatos”.
Em setembro de 1939, apenas onze anos depois daquele idílico encontro de nações, começava a Segunda Guerra Mundial, a maior catástrofe já provocada pelo homem. Setenta e duas nações se envolveram no conflito e o número de mortos superou cinqüenta milhões, além de outros vinte e oito milhões de mutilados.

Meros 17 anos depois daquele encontro, tão cheio de “vontades políticas”, num outro 27 de agosto, agora de 1945, o exército americano entrava no Japão, depois que Hiroshima e Nagasaki “convenceram” o imperador Hiroíto a anunciar a rendição do país.
Dizem os economistas que a Primeira Guerra Mundial teve um custo de 208 bilhões de dólares, enquanto a Segunda atingiu a impressionante cifra de 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, quantia que, investida no combate à miséria, a teria varrido da face da terra.



Creio, porém, haver duas situações em que se pode dar ouvidos a quem invoque a malfadada “vontade política”. Pegue, por exemplo, a promessa de Juscelino de erguer Brasília e, assim, descentralizar o desenvolvimento do Brasil, tão concentrado no litoral. É um excelente exemplo de “vontade política” factível, concreta, realizável. Basta ver os resultados! Mutatis mutandis, não foi outro o desfecho do compromisso assumido pelo então candidato Luiz Henrique. Em menos de quatro anos, a descentralização já é uma grata realidade que vem mudando a cara do interior catarinense.
Mudanças estruturais têm muito mais chance de vingar do que promessas tópicas, vazias e eleitoreiras, que podem ser o CEU da Dona Marta, o Fome Zero do seu Lula, o CAIC do seu Collor, ou uma tal Escola-Mãe, que ninguém sabe o que é... Mentiras de uns, ilusões cosméticas de outros, a situação do povo continua sempre a mesma.
A outra situação diz respeito à ética, à seriedade, à honestidade no trato com a coisa pública. Eis aí um fator que, este sim, depende, fundamentalmente, da “vontade política” de quem aspira a um cargo eletivo.
Há aqueles que, como denunciou o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, almejam a “formação de uma quadrilha para lavagem de dinheiro, evasão ilegal de divisas, corrupção ativa e passiva e peculato” ou criar uma “organização criminosa para garantir a permanência do Partido no poder com a compra de suporte político de outros partidos e com o financiamento irregular de campanhas”. Isso é “vontade política” na mais pura acepção do termo, mas é uma “vontade política” voltada para o mal, para a perpetuação de um grupo no poder.
Mas há também aqueles que, por pequenos gestos, acabam nos dando a garantia de seu caráter. Veja os exemplos dados pelo jornalista Ricardo Setti (que foi editor-chefe do jornal O Estado de S. Paulo, diretor do Jornal do Brasil, redator-chefe da revista Istoé, editor da revista Veja e ganhador do Prêmio Esso de Reportagem de 1986): “o correto seria Lula licenciar-se da Presidência (...) FHC teve mais compostura, mas deveria ter acompanhado a atitude ética do governador Mário Covas, que no mesmo ano, candidato a novo período no governo de São Paulo, afastou-se durante quase quatro meses para fazer a campanha. Neste ano de 2006, o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, ex-companheiro de Covas, deu um passo ainda mais radical – infelizmente ignorado pela grande mídia que tanto desanca os políticos, como se todos fossem da mesma laia: no dia 6 de julho passado, renunciou ao mandato e a 179 dias no comando de um Estado importante e rico, passando o posto ao vice para concorrer em condições de igualdade com os demais candidatos”.

Num outro dia 27 de agosto, só que há 2557 anos, nascia o filósofo chinês Confúcio, que, ensinou: "O homem superior medita antes de falar e depois age de acordo com suas palavras".


Aprendeu quem quis.

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