20 outubro 2006

VIDA INTELIGENTE NA BLOGOSFERA


Para quem ainda não conhece, sugiro uma visita ao mais inteligente, instigante, analítico e desmistificador blog que já acessei (www.reinaldoazevedo.com.br/).
Trata-se de um veterano jornalista que, apesar de atualmente dedicar-se quase exclusivamente à política, numa verdadeira cruzada anti-Lula, passada a eleição certamente voltará a brindar seus leitores com sua visão privilegiada também da conjuntura internacional, das artes, das humanidades, enfim.



Dono de uma erudição invulgar e uma cultura geral rara, além de uma forma desabrida e corajosa de enfrentar algumas taras e tabus quase intocáveis, por força da praga do “politicamente correto”, neste momento sua contribuição para o debate das idéias tem sido particularmente interessante no tocante à análise dos vícios adquiridos pelos jornalistas e pela intelectualidade brasileira.


Com sua larga experiência nas redações de importantes veículos de comunicação do País, Reinaldo desvenda os truques e as más intenções do jornalismo engajado – que, por sinal, não considera condenável em si, desde que fosse explícito – e também a farsa do “isentismo”, outra variante do “politicamente correto”, que tenta posar de democrático.


De fato, se analisado em profundidade e sem preconceito, o jornalismo engajado não é um mal em si. O sujeito que, abertamente, defende determinado candidato ou apóia determinada causa, pode até perder leitores que abominem sua visão de mundo, mas não será por desonestidade intelectual e profissional. Em contrapartida, ganha a fidelidade daqueles que com ele concordam, que passam a buscar suas análises como fonte de entendimento das intrincadas manobras, idas e voltas da política nacional, estadual ou municipal. Grandes jornais e revistas dos EUA tomam partido abertamente nas eleições presidenciais. A conservadora revista inglesa The Economist não esconde, ao contrário, escancara, sua posição radicalmente favorável à legalização do comércio de todas as drogas.


Quanto ao famigerado “isentismo”, trata-se de uma praga das mais nocivas e mortais para o bom funcionamento do raciocínio médio, mediano ou medíocre, pois, ao tentar ser justo, imparcial e democrático, trata igualmente os desiguais, dá peso e valor a quem não os merece, tudo em obediência à ditadura do “politicamente correto”.


Em suas invectivas contra essa chaga que debilita a vitalidade do nosso jornalismo, Reinaldo costuma dizer que, hoje, os nazistas teriam o beneplácito de serem ouvidos e teriam espaço para dar a sua versão dos fatos, afinal, é obrigatório ouvir o “outro lado”. Marcola, Fernandinho Beiramar, Delúbio, Marcos Valério, qualquer bandido ou criminoso, se tiver desejo e cara-de-pau suficientes para tal, terá o seu “sagrado” espaço reservado para lançar os seus dejetos verbais.
Outra forma criminosa de “isentismo” é publicar, sem preocupação com os neurônios do leitor, qualquer besteira, por mais absurda que seja, desde que proferida por alguém que seja considerado autoridade ou celebridade. Quando, por exemplo, Lula afirma que “nunca tentou impedir o funcionamento das CPIs”, isso é transcrito literalmente e a informação se encerra com um cúmplice ponto final. Não há um box ou uma retranca ao lado para desfazer a deslavada mentira e, de fato, informar o leitor. Quando, em outro exemplo, Esperidião Amin afirma que vai aproveitar o embalo do escândalo do dossiê petista e da dinheirama mostrada nas TVs, para tentar encenar uma pantomima semelhante por aqui, pois “se deu certo lá, há de dar aqui também”, os jornalistas contentam-se em reproduzir tamanha indecência, sem emitir qualquer juízo de valor a respeito desse tipo canhestro de esperteza de quadrilha. Pior, em alguns casos nota-se, claramente, um certo culto reverencial a personagens que se mostram hábeis em criar frases de efeito, inventar enredos fantásticos ou driblar a verdade com factóides.
Consumir notícias nunca mais será a mesma coisa depois de algumas “aulas” do professor Reinaldo.

Sua capacidade de identificar e desconstruir as manhas e artimanhas dos nossos jornalistas é invejável. Sua ironia, leveza e precisão de análise tornam essas sessões de desnudamento intelectual e ideológico um prazer tão grande, um abrir de olhos tão enriquecedor que muitos confessam-se viciados.Para quem não é escravo do lulo-petismo, vale a pena uma visita diária a esse oásis no imenso deserto informativo nacional, talvez o único espaço completamente desintoxicado e livre do vírus gramsciano que tanto mal já causou à inteligência e à formação do caráter nacional.

Um comentário:

Paulo Simões disse...

Achei seu blog pelos seus comentários no blog do Reinaldo. Gostei muito!

Quanto à este post, descrição precisa do "isentismo" e do "jornalismo engajado"! Muito bom!